Assistência Psiquiátrica em debate

Publicado em:  17/07/2008

Cerca de dez médicos do Corpo Clínico do Hospital Bom Retiro estiveram reunidos, na noite de 16 de julho, com membros da Diretoria Executiva da Sociedade Paranaense de Psiquiatria. O objetivo da atividade foi aproximar os profissionais, convidando os psiquiatras a participar mais ativamente da SPP e estimulando debates de assuntos ligados à especialidade. Na oportunidade, o atual Secretário Regional da ABP – Região Sul, Osmar Ratzke, apresentou dados recentes a respeito da chamada reforma psiquiátrica e seus desdobramentos para a profissão.

"Critico bastante esta reforma. A começar pelo nome". Para Ratzke, o título é incorreto e indevido. "A psiquiatria, como especialidade, não necessita de reforma, assim como a cardiologia e a dermatologia. Ela evolui cientificamente de acordo com as novas descobertas, novos tratamentos e novas técnicas. A assistência psiquiátrica, sim, necessita de reforma", declara.

Para o médico assistente do corpo clínico e coordenador do serviço médico do Bom Retiro, Francis Mourão, a iniciativa da SPP de ir até os psiquiatras é extremamente válida. "Obrigado pela disposição de realizar reuniões conosco. Estas atividades com trocas de experiência são muito ricas e devem ser mais freqüentes", afirma.

Trazer o psiquiatra para perto da Sociedade de Psiquiatria. Esta é meta da entidade, que completou em 2008 41 anos de fundação. Para o atual presidente da SPP, Marco Antonio Bessa, a aproximação é extremamente importante, pois oxigena e revitaliza a entidade e contribui para o desenvolvimento científico, atualização profissional e pouco-a-pouco pode diminuir o estigma que há em relação ao transtorno mental. "Precisamos nos unir para esclarecer a sociedade a respeito dos principais transtornos", diz.

Por estes motivos, a SPP tem sido pioneira entre as Federadas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) no desenvolvimento de atividades descentralizadas, a começar com o café da manhã de boas-vindas aos residentes e especializandos e agora com as reuniões com colegas médicos. 

 

Profissionais receberam exemplar do Informativo Especial aos 41 anos.

Reforma "psiquiátrica" (SIC): uma maneira moderna de negar a doença mental?

Ratzke apresentou aos colegas os paradoxos do sistema de assistência psiquiátrica em palestra ministrada no Bom Retiro. Em sua breve exposição, cujo título remete a uma visão político-ideológica antipsiquiátrica, o ex-presidente da SPP apresentou os vários serviços da nova assistência psiquiátrica que, em sua opinião, produz um viés distorcido, refletido nas políticas públicas em Saúde Mental, no âmbito do SUS.

Formado em 1968, Ratzke, que atualmente é professor de Psiquiatria em Medicina na UFPR e Diretor-Geral da Clínica Heidelberg, conta que há anos a reforma da assistência psiquiátrica é tema de debate no país e que as resoluções tomadas neste processo ainda não foram totalmente implementadas. "A assistência era centralizada nos hospitais psiquiátricos. Hoje, com a diminuição do número de leitos e os novos métodos de tratamento, criou-se um novo modelo de atendimento, uma forma menos hospitalar de atendimento, inclusive para pacientes do SUS", explica.

O secretário Regional da ABP informa que o trabalho da Associação Brasileira junto ao Ministério da Saúde é inserir o psiquiatra nas equipes do Programa de Saúde da Família, nas Unidades de Saúde e em hospitais gerais. "A psiquiatria é uma especialidade médica ambulatorial: 90% dos casos você resolve no ambulatório", afirma.

Em sua opinião, a adoção de outros sistemas extra-hospitalares ainda está muito aquém das necessidades. "Os CAP's (Centros de Atenção Psicossocial) não só são poucos para um país gigantesco como o nosso, mas tem também uma baixa resolutividade. Mais da metade dos CAPS's não têm médico", completa.

Além disso, a ênfase no ambulatório foi colocada de lado. "Há pouco investimento ambulatorial – o especialista recebe pelo SUS R$ 7,00 por consulta – e não existem leitos suficientes para menores dependentes químicos", afirma. Para ele, nenhum dos serviços de assistência psiquiátrica pode ser considerado central. "Todos são importantes e podem ser necessários em momentos diferentes da história do paciente", afirma.

Para o médico Dalton Vinícius Paiva Abussafi, o envolvimento com questões de política de saúde mental, por meio das entidades associativas, como a ABP e a SPP, pode ser uma forma de contribuir para a inclusão do psiquiatra em posição de destaque na sociedade e diminuir a resistência ao médico desta especialidade.


TAGS


<< Voltar