Quando não fumar é pior

Publicado em:  21/07/2008

Blog do Luigi Poniwass, publicado no dia 16 de julho, no jornal Gazeta do Povo.

Saudações, meus bravos notívagos! Peço desculpas pelo silêncio prolongado, mas estou de volta com um assunto que ainda vai dar o que falar.

Depois da polêmica da Lei Seca (que, apesar de todo o choro e ranger de dentes, teria ajudado a reduzir os atendimentos do Samu em 24% em 14 unidades do país), está em gestação outra norma que deve atingir em cheio os baladeiros do país: o endurecimento da legislação anti-fumo, com a proibição do cigarro em locais fechados.

O assunto voltou à tona em maio do ano passado, quando a Organização Mundial da Saúde solicitou que se proibisse o fumo em locais públicos e de trabalho fechados, para proteger os chamados fumantes passivos.

Em resposta, no início deste ano o governo federal enviou ao Congresso um projeto de lei banindo o fumo de todos os lugares fechados e proibindo áreas reservadas para fumantes em bares, restaurantes, shopping centers e empresas - além de estudar uma taxação adicional para produtos derivados do tabaco, o que aumentaria o preço dos cigarros no Brasil.

 

O objetivo maior da proposta, segundo o ministro da saúde, José Gomes Temporão, é o mesmo da OMS: proteger os fumantes involuntários. Que em alguns casos podem ser mais prejudicados que os próprios tabagistas, conforme explica o ministro:

"Em alguns casos, o cigarro causa mais danos para quem não fuma. Se você trabalha num ambiente fechado, não fuma e convive com um fumante, você está inalando centenas de substâncias que são produzidas a partir da queima do papel e da nicotina, enquanto o fumante está protegido pelo filtro."

Ou seja: um garçom ou barman que trabalhe todas as noites num bar impregnado de cigarro teria mais chances de contrair doenças cardiorrespiratórias do que um fumante moderado que trabalhe em um ambiente livre do fumo.

O Ministério da Saúde ampara o projeto com pesquisas, que mostram que "os fumantes passivos têm um risco 23% maior de desenvolver doença cardiovascular, 30% mais chances de ter câncer de pulmão e 24% a mais de chances de sofrer um infarto de miocárdio. Esse não-fumante ainda teria maior propensão a desenvolver asma, ter redução da capacidade respiratória e maior risco de arteriosclerose."

 

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Eu não fumo e não vejo charme, estilo ou glamour nenhum no cigarro - embora tenha vários amigos tabagistas. Nunca tive sequer a curiosidade de experimentar o gosto (que deve ser bom, para compensar o cheiro), não precisei do tabaco para me enturmar, para me aproximar das garotas ou para provar que eu era "adulto".

Mesmo assim, desde 1995, quando montei minha primeira banda, comecei a tocar na noite e a sair com mais freqüência, me tornei um fumante - involuntário, passivo, forçado, mas ainda assim fumante.

Naquela época, a gente brincava que voltava para casa com "cheiro de Potato", ou "cheiro de Hangar". Não era dos lugares, era do tabaco - misturado com gás carbônico, mofo e eflúvios gástricos de quem abusava do álcool.

Hoje a noite pode ser menos tosca, mas você (mesmo sem ser fumante) provalmente já voltou para casa com "cheiro de Empório", "cheiro de James" ou "cheiro de Wonka", e o carro, o cabelo e as roupas empesteadas. Quanto menor e menos ventilado o bar, pior.

Se para o público em geral essa névoa cancerígena pode ser considerada apenas um desagradável efeito colateral de uma noite divertida, para quem precisa trabalhar toda noite num ambiente assim - incluindo os músicos - ela é um suplício.

Prova disso foi o apelo feito no sábado passado por um dos músicos da big band paulistana Funk Como le Gusta, que se apresentou no John Bull Music Hall - onde em tese não seria permitido fumar. Ele precisou pedir aos fumantes da platéia que apagassem seus cigarros, pois não estava conseguindo cantar direito. Constrangedor.

Alguns bares já estão se preparando para a lei, criando áreas externas para os fumantes. Em São Paulo e Recife já existem leis municipais que restringem o fumo, e a vida noturna por lá ficou muito mais "respirável". E você, o que acha da noite sem cigarro? Participe da enquete

 

 

 

 


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