Publicado em: 12/08/2008
Trabalho será apresentado em setembro, no Congresso Mundial de Psiquiatria, em Praga
O psiquiatra Thiago Fidalgo e a terapeuta ocupacional do Programa de Esquizofrenia da Unifesp (Proesq), Cecília Villares e o professor do Departamento de Psiquiatria Miguel Roberto Jorge, criaram a disciplina eletiva "Esquizofrenia - Ampliando Conceitos" para combater os estigmas ligados às doenças mentais em geral e, particularmente, à esquizofrenia, junto aos alunos de medicina da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
A disciplina está em sua 7º turma e soma a marca de 180 alunos participantes. O trabalho será apresentado em setembro, no Congresso Mundial de Psiquiatria, em Praga.
Desde quando era estudante, Thiago Fidalgo percebia entre colegas e profissionais da área certo preconceito em relação aos pacientes com problemas psiquiátricos, em especial com os portadores de esquizofrenia. Em parceria com os profissionais do Proesq, desenvolveu uma disciplina eletiva, como estratégia para minimizar o estigma dos transtornos mentais.
As primeiras duas turmas foram avaliadas por meio de um questionário aplicado antes e depois do curso, que confirmou a presença de uma visão estereotipada da doença e do portador, mas também mostrou como essa postura pode evoluir a partir do contato com informações corretas.
O questionário perguntava o que, para eles, seria a esquizofrenia. Entre as explicações, apareceram definições como: doença ou transtorno psiquiátrico ou mental (antes, 23% e, depois, 15%); perda de contato com a realidade (35,9% antes e, depois, 36,6%); loucura (25,6% e, depois, 0,03%); e múltiplas personalidades (12,8% e, depois, zero).
Programa
Desde 2006, as aulas são oferecidas aos alunos do 2º, 3º e 4º anos de medicina, com carga horária de 16 horas, em quatro semanas. Os temas desenvolvidos abordam aspectos históricos, epidemiológicos e clínicos da doença e, no decorrer do curso, são introduzidos novos conceitos, que buscam sensibilizar os alunos para a importância de se tornarem profissionais livres de preconceitos. Além disso, durante o curso é ressaltada a importância do acompanhamento por uma equipe multidisciplinar.
Na primeira aula, um portador enriquece o conteúdo contando desde a primeira crise, o diagnóstico e a luta para enfrentar as dificuldades diárias e o preconceito. "Entre os alunos, essa é considerada a melhor aula da disciplina", afirma o psiquiatra. O paciente Jorge Cândido de Assis, que ministra a aula, não se apresenta inicialmente como portador, revelando-se só depois. "É a aula que eles mais interagem e saem muito sensibilizados", diz Thiago. Durante o curso, também é exibido o documentário "Estamira", que aborda o tema.
Essa prática é a pioneira no Brasil e tem recebido bastante destaque quando apresentada em congressos e simpósios nacionais e internacionais. Experiência será apresentada em setembro, no Congresso Mundial de Psiquiatria, em Praga.