Alcoolismo cresce entre comunidades indígenas

Publicado em:  19/09/2008

Equipe da Funasa realiza encontros periódicos no RS para acompanhar os casos e discutir soluções com as lideranças.  

 

O alcoolismo é um problema que vem crescendo entre as 40 comunidades indígenas do Rio Grande do Sul, onde vivem 19.066 pessoas. Uma equipe multidisciplinar da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Estado vem realizando encontros periódicos em 105 aldeias e acampamentos espalhados por 44 municípios para discutir os casos.

O coordenador do Núcleo de Saúde Mental da Assessoria de Saúde Indígena da Funasa, Claudemir Moreira Vaz, explica que a fundação criou um grupo de trabalho em 2007 para acompanhar os casos e discutir soluções com as lideranças. Neste ano, as equipes começaram as visitas às tribos caingangue e guarani. O assessoramento é realizado por 34 equipes, que contam com nutricionistas, enfermeiros, farmacêuticos e terapeutas ocupacionais. Nesta quinta-feira, Vaz participou de uma reunião da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia, que debateu o problema.

 

Jornal do Comércio - Quais são as reivindicações das comunidades no Estado?

Claudemir Moreira Vaz - A principal está relacionada aos casos de alcoolismo, principalmente nas comunidades caingangue do Estado. Há poucos anos não existia nenhuma atenção à saúde mental dos índios. O que havia eram ações isoladas realizadas por ONGs e igrejas que trabalhavam a questão. Com o passar do tempo a Funasa percebeu que necessitaria dar atenção especial à saúde mental dos índios. Os trabalhos realizados nas aldeias estavam relacionados à saúde da mulher, do idoso e da criança. Em 2007, iniciamos as primeiras discussões, e neste ano começamos a visitar as 40 comunidades no Estado.

JC - Porque o alcoolismo é o principal problema entre os índios?

Vaz - O uso abusivo do álcool está ligado a uma tradição de nossos antepassados. No Estado, vivem 19.066 índios - 17.195 caingangues e 1.871 guaranis. O problema é maior entre os caingangues que utilizavam o ritual do Kiki, no qual se tomava uma bebida alucinógena que com o passar dos tempos foi substituída pela cachaça. O uso de bebida alcoólica em algumas aldeias tem causado uma série de casos de violência.

JC - Quais as conseqüências?

Vaz - O excesso de bebida acaba causando brigas, o afastamento da família, e muitos chefes de família deixam de ensinar a língua caingangue. E o que preocupa é que os casos de alcoolismo são mais fortes entre os mais jovens. Criamos um grupo multidisciplinar com enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais e nutricionistas. Visitamos as comunidades e discutimos propostas com o cacique, os familiares e o kujã (líder espiritual da aldeia) para tentar resolver o problema. 


TAGS


<< Voltar