Publicado em: 05/12/2008
Por Michael W. Kahn clinica em Boston, Massachusetts (EUA), para o jornal "The New York Times".
Recentemente, perguntei a uma colega sobre a qualidade do atendimento que sua mãe hospitalizada vinha recebendo. "Bom, pelo menos é possível ter uma conversa com o médico dela", respondeu minha colega. Estava claro que para ela aquilo era um grande alívio.
Habilidades de alto nível, como ponderação e empatia, são uma parte importante da educação médica nos dias de hoje. No entanto, como apontei em maio último em um artigo no "New England Journal of Medicine", as faculdades de medicina podem não estar enfatizando o suficiente uma virtude muito mais simples: os bons modos.
No artigo, descrevi um método de senso-comum para espalhar a cortesia clínica que eu chamo de "medicina baseada na etiqueta", e propus uma lista simples de seis passos para os médicos seguirem durante a primeira visita a um paciente:
-- Peça permissão para entrar na sala; espere por uma resposta.
-- Apresente-se; mostre seu crachá de identificação.
-- Troque um aperto de mão.
-- Sente-se. Sorria, caso seja apropriado.
-- Explique seu papel na equipe de atendimento médico.
-- Pergunte como o paciente se sente a respeito de estar no hospital.
Mas será que os médicos realmente precisam ser lembrados de fazer coisas tão óbvias? Infelizmente, qualquer um que tenha passado certo tempo no hospital, seja como paciente ou como médico, sabe quão casualmente tais ações são realizadas, e como escreveu Samuel Johnson, "o homem precisa ser mais lembrado do que instruído".
Aqui existe uma útil analogia com a criação de crianças. O médico britânico D.W. Winnicott cunhou o termo "mãe suficientemente boa", em parte para ajudar as mães que ficavam exageradamente ansiosas a respeito de suas capacidades maternais. Em vez de se preocupar em tentar ser perfeita (seja lá o que isso signifique), ele as encorajou a relaxar, acreditar em sua intuição e perceber que suas crianças precisavam de uma mãe cuidadosa, alerta e confiável – em outras palavras, suficientemente boa.
De forma similar, quando escolas de medicina tentam produzir médicos ideais, elas podem perder a oportunidade de ajudá-los a ser suficientemente bons: talvez não perfeitamente sintonizados com o paciente, mas pelo menos respeitosos e profissionais. Uma abordagem baseada na etiqueta pode promover exatamente esse tipo de comportamento.
A medicina baseada na etiqueta se apóia no fato de que pacientes obtêm conforto de ações específicas – em oposição a posturas ou sentimentos – que são independentes do investimento emocional do médico sobre o paciente. Meu médico por estar cansado, preocupado ou não tão interessado em mim como pessoa; mas eu ainda devo esperar que ele ou ela me trate com o tipo de consideração e respeito que recebi de um "gênio" na loja local da Apple.
O "gênio" era habilidoso, eficiente e profissional, e resolveu rapidamente meu problema sem sentir minha dor (que era considerável). Eu não necessariamente quero ou preciso ter um curandeiro excepcional, mas gostaria de receber bons serviços. Os pacientes deveriam exigir ao menos a mesma consideração de seus médicos.
Será que isso significa desistir dos mais nobres valores da medicina a serviço da mera satisfação do cliente? De forma alguma. Considere mais uma analogia: um país em desenvolvimento pode fazer um grande investimento em aparelhos de ressonância magnética, um elemento essencial da medicina atualizada. Mas esse dinheiro será muito mal gasto se o país não tem antibióticos ou médicos suficientes para prescrevê-los.
Da mesma forma, a tentativa de cultivar uma sensibilidade humana mais profunda em médicos será um uso ineficiente de escassos recursos educacionais, se esses médicos não conseguem ter o tempo de sentar-se, apresentar-se e estabelecer contato visual com seus pacientes. Educar médicos suficientemente bons deveria ser como fluorar o abastecimento de água ou vacinar crianças: descomplicado, rotineiro, relativamente barato – mas com amplos e duradouros benefícios.