Publicado em: 05/01/2009
Os comportamentos enganosos têm uma história longa e muito divulgada na evolução da vida social, e parece que, quanto mais sofisticado é o animal, mais corriqueiras e astutas são as enganações que comete.
Num estudo comparativo de comportamentos de primatas da Universidade St. Andrews, na Escócia, constatou-se uma relação direta entre logro e tamanho do cérebro.
Quanto maior o volume médio do neocórtex (a região mais nova e mais "nobre" do cérebro) de uma espécie de primatas, maiores as chances de os animais fazerem truques como este descrito na revista "New Scientist": um babuíno pequeno perseguido por sua mãe irada, determinada a castigá-lo, parou de repente no meio da fuga e começou a vasculhar o horizonte com olhar atento. Com isso, desviou a atenção do bando inteiro de babuínos, que passou a preparar-se para fugir de invasores inexistentes.
Muitas evidências sugerem que nós, humanos, com nosso neocórtex densamente sulcado, mentimos uns aos outros cronicamente e sem dificuldade. Investigando o que chamaram de "mentiras do cotidiano", Bella DePaulo, hoje professora visitante de psicologia na Universidade da Califórnia em Santa Barbara, pediu a 147 pessoas que escrevessem diários anônimos com as circunstâncias e o contexto de cada mentira que contavam.
Foi constatado que as pessoas contavam entre uma e duas mentiras por dia e que a maioria das mentiras se enquadrava na categoria das "mentirinhas brancas" ou lorotas. "Falei que sinto saudades dele e penso nele todos os dias, quando na realidade não penso nem um pouco", escreveu uma participante. Num estudo seguinte, os pesquisadores pediram aos participantes que descrevessem a pior mentira que já tinham contado. Apareceram confissões de adultério, de defraudação de um empregador, de mentiras contadas no banco das testemunhas. Muitos participantes se disseram atormentados pela culpa, mas outros admitiram que, depois de perceberem que suas mentiras tinham sido aceitas como verdades, passaram a mentir repetidas vezes.
A verdade é que mentir é fácil. Nossa cegueira às mentiras leva alguns pesquisadores a pensar que existe um desejo humano de deixar-se enganar.
"Há uma motivação contraintuitiva para não detectarmos mentiras, ou já teríamos nos tornado hábeis em detectá-las", disse Angela Crossman, professora assistente de psicologia no John Jay College de Justiça Criminal, em Nova York. "Mas é possível que você não queira, no fundo, saber que seu jantar ficou ruim ou que seu marido a está traindo."
O mundo natural é repleto de coisas que não são o que aparentam ser. Inofensivas borboletas viceroy imitam as tóxicas borboletas monarca; peixes-sapo atraem suas presas com apêndices que se mexem como minhocas.
Os biólogos traçam uma distinção entre casos de enganação inata ou automática, por um lado, e a chamada enganação tática, por outro: o uso de comportamento normal numa situação nova, com o intuito expresso de induzir um observador ao engano. A enganação tática exige considerável agilidade comportamental, razão pela qual é observada com mais frequência em animais mais inteligentes. Os grandes macacos, por exemplo, são ótimos enganadores. Frans de Waal, professor do Centro Nacional Yerkes de Pesquisas com Primatas e da Universidade Emory, em Atlanta, disse que os chimpanzés ou orangotangos em cativeiro às vezes tentam atrair humanos estranhos para seu cercado, oferecendo a eles um pedaço de palha e adotando sua expressão mais simpática.
"As pessoas pensam 'ele gosta de mim!' e se aproximam", disse De Waal. "Num instante, o macaco agarra o tornozelo da pessoa e o morde."
Mas os macacos não usam o truque da palha com seus semelhantes. "Eles se conhecem bem demais para tentar algo assim", disse De Waal. "Oferecer uma palha, fazendo cara de bonzinho, é um truque tão barato que apenas um ingênuo humano se deixaria enganar."