Famílias abandonam seus doentes mentais

Publicado em:  08/01/2009

Uma palavra de conforto e o toque das mãos de um familiar se transformaram em uma longa e interminável espera para metade dos pacientes internados no Hospital Psiquiátrico de Maringá.

Dos 240 pacientes, somente 50% recebem visitas freqüentes da família; os outros 50% foram esquecidos pelos parentes.

O diretor do hospital, o médico psiquiatra Mário Miyazato, conta que o tempo das internações ultrapassa o período recomendado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) porque a família desaparece e, dessa forma, não há como receitar alta ao paciente.

"Temos pacientes internados há três anos porque os parentes desapareceram e ninguém conseguiu um telefone ou endereço para contato", destaca.

"Em casos de abandono da família, não podemos simplesmente colocar o paciente na rua depois que o tempo de internação terminou; isso, sim, seria desumano."

A ausência da família junto ao paciente muitas vezes tende a tornar crônica a doença mental. Para a diretora do Centro Integrado de Saúde Mental de Maringá (Cisam), Aparecida Moreno Panhossi da Silva, a presença de familiares perto do doente contribui com o tratamento.

"Se pais ou responsáveis não participam, o paciente não consegue se manter estável, não vai tomar a medicação e nem entenderá a doença", diz.

"Se a família não acompanhar o tratamento, não há como levá-lo adiante; ela é ponto fundamental na recuperação do doente." O psiquiatra Miyazato afirma que o abandono da família reflete negativamente no tratamento.

"A doença mental não se trata com injeção; é uma doença complexa e que exige cuidados para toda a vida, mas muitos familiares abandonam o paciente no hospital", lamenta.

 

Conflitos

O consumo de drogas e o alcoolismo somavam 54% dos diagnósticos dos pacientes internados no Hospital Psiquiátrico no mês de novembro. A esquizofrenia foi encontrada em 20% dos casos.

As estatísticas mostram que os modernos hospitais psiquiátricos estão mais às voltas com alcoolismo e drogas do que com doenças mentais. O diretor do hospital, atribui os índices ao aumento dos conflitos humanos.

"Antigamente, as internações por drogas e álcool em hospitais psiquiátricos eram menores; hoje, elas cresceram porque os conflitos emocionais, que são resolvidos artificialmente pelo efeito das drogas, também aumentaram."

 

'Hospital não é uma prisão', diz médico

 

Diretor de hospital afirma que as internações por dependência de álcool e entorpecentes são necessárias porque os pacientes geralmente não aceitam se submeter a sessões de psicoterapia

 

O psiquiatra Mário Miyazato, há 15 anos na direção do Hospital Psiquiátrico de Maringá – fundado em 1962 -, diz que as internações por dependência de álcool e entorpecentes são necessárias porque os pacientes geralmente não aceitam se submeter a sessões de psicoterapia.

"A internação não tem o objetivo de castigar o paciente", esclarece. "O hospital não é uma prisão, como muita gente pensa; é uma instituição que dá segurança ao paciente e a terceiros."

Na opinião de Aparecida Moreno Panhossi da Silva, diretora do Cisam, a família deve buscar a emergência psiquiátrica a partir do momento em que o doente coloca a vida dele e dos outros em risco. "Se ele não for internado, a crise psicótica não é controlada."

Aparecida relembra que ao longo da história, sempre foram internados doentes com e sem necessidade.

Ela conta que antes a pessoa muito rica e que às vezes ficava irritada ou tinha transtorno de personalidade era internada em um sanatório porque os parentes não conseguiam lidar com a situação.

Hoje, ao contrário, tem-se priorizado internar pacientes que realmente precisam do hospital.

Casos de dependência de drogas e álcool são tratados em 30 dias. Durante esse período, Miyazato diz que é possível desintoxicar o organismo do dependente e mostrar a ele que é possível viver sem a bebida ou a droga.

A maioria dos pacientes internados no Hospital Psiquiátrico de Maringá é composta de homens – 75%. A faixa etária de maior prevalência é de 37 a 40 anos. A instituição dispõe de 12 leitos para a internação de crianças e adolescentes.


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