Publicado em: 14/01/2009
Saúdes física e mental destas vítimas ficam abaladas. Mulheres são as que mais sofrem com doença.
Um estudo inédito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela os efeitos da violência na saúde física e mental das vítimas indiretas dos crimes e de quem sobrevive a eles. As mulheres são as que mais sofrem. E o tempo não cura.
Desde que a filha mais velha foi assassinada há quatro anos, dona Maria Luzia Monteiro, por exemplo, não tem mais vontade de fazer nada. "Eu fazia crochê, eu fazia tricô, eu bordava, eu costurava... Até roupa de formatura eu fazia. Não faço mais nada, eu não consigo", disse. Ela sofre de transtorno de estresse pós-traumático. "Se eu puder ficar na cama o dia inteiro, eu fico. Eu parei no tempo", completou.
Uma doença que atinge de 10 a 15% das vítimas de violência. E que é duas vezes mais comum em mulheres. "A pessoa tem lembranças repetidas a respeito da cena traumática. Então ela revive aquela cena como se estivesse acontecendo novamente e toda a vez que ela revive isso é muito sofrido", explicou Marcelo Feijó de Mello, coordenador do estudo.
A violência não traz apenas sintomas psicológicos. O organismo das vítimas também sofre mudanças importantes. De acordo com uma pesquisa inédita da Unifesp, os pacientes com transtorno de estresse pós-traumático têm alterações hormonais e diminuição do tamanho do cérebro.
A área pré-frontal e o hipocampo perdem entre 6 e 7% do volume, o que dificulta o raciocínio e a memória. A produção de um hormônio chamado cortisol cai drasticamente, o que traz dificuldade de concentração, queda da imunidade e aumenta em até cinco vezes a chance de doenças cardíacas, como infarte ou derrame.
O mais assustador , segundo os pesquisadores, é que a doença é quase tão comum em São Paulo quanto em zonas de guerra. "Os nossos números são muito mais próximos de regiões como a Palestina do que comparado com uma cidade da Europa ou dos Estados Unidos", afirmou Mello. Os médicos ainda pesquisam por que as mulheres sofrem mais com a doença do que os homens.