Publicado primeiro estudo feito no Brasil sobre o transtorno da conduta

Publicado em:  23/01/2009

Uma revista científica da Fiocruz publicou o primeiro estudo realizado no Brasil sobre a prevalência do transtorno da conduta – desordem psicológica que vai desde mentir e matar aula até brigar com uso de armas e praticar assaltos. A pesquisa consistiu em entrevistas com 1.145 adolescentes de 11 a 15 anos moradores de Pelotas (RS). Para a avaliação do transtorno da conduta, as entrevistas investigaram a presença de seis comportamentos: ter freqüentemente passado a noite na rua, sem autorização dos pais; ter freqüentemente mentido ou enganado os outros; ter roubado alguma coisa; ter ameaçado bater em outras pessoas; ter destruído coisas de propósito; e ter machucado animais ou pessoas de propósito.

Os resultados mostram que três em cada dez adolescentes apresentavam dois ou mais desses comportamentos avaliados. Essa prevalência de 30% para transtorno da conduta entre os adolescentes de Pelotas é similar à observada no Peru e bem superior à verificada no Canadá. Neste país da América do Norte, a prevalência do transtorno da conduta é de 5,5%. “As diferenças nos valores provavelmente são decorrentes da divergência de instrumentos utilizados nas coletas de dados e nas diferenças socioeconômicas e culturais dos locais investigados”, explicam a pesquisadora Ana Laura Sica Cruzeiro e co-autores no artigo.

Além de investigar a freqüência do transtorno da conduta, o estudo também identificou fatores associados à ocorrência do problema. Os pesquisadores constataram, por exemplo, que esse transtorno era mais freqüente entre os meninos do que entre as meninas e atingia, sobretudo, os adolescentes das classes socioeconômicas mais baixas – resultados que estão de acordo com trabalhos realizados em outros países.

Outra conclusão diz respeito ao consumo de bebida alcoólica e ao uso de drogas: adolescentes com tais condutas no mês anterior à entrevista apresentaram um risco maior para o transtorno da conduta. Um risco maior para esse problema também foi encontrado entre jovens que sofreram bullying, isto é, “todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem sem motivações evidentes, dentro de uma relação desigual de poder, causando dor, angústia e humilhação”. “É plausível que os adolescentes que sofreram violência tornem-se violentos”, diz o artigo, assinado por pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

Os autores, portanto, chamam a atenção para a necessidade de estratégias preventivas, que minimizem os fatores associados ao aparecimento do transtorno da conduta. Esta desordem psicológica poderia ser prevenida por meio de intervenções para evitar o consumo de álcool, o uso de drogas e o bullying desde a infância. “Crianças e adolescentes com transtornos de comportamento tendem a permanecer com estes transtornos na idade adulta e, quando adultos, tendem a criar filhos também com transtornos de comportamento, estabelecendo-se um ciclo difícil para a sociedade”, destacam Ana Laura e co-autores.


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