Número de pessoas que bebem antes de dirigir volta aos níveis pré-lei seca

Publicado em:  08/04/2009

"Acendemos a luz amarela", diz ministro da Saúde, que defende mais empenho na fiscalização e na repressão

            Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com 54,3 mil brasileiros comprova o que estatísticas de trânsito já vinham apontando: o brasileiro voltou a associar bebida e direção. Depois de sofrer uma significativa redução entre julho e agosto de 2008 - efeito da lei seca, sancionada em junho daquele ano -, a tendência de beber e dirigir se estabilizou até que, em novembro, o hábito voltou a ser incorporado por grande parcela da população. Hoje, os indicadores são semelhantes aos de 2007, antes da existência dessa legislação restritiva. Em março, 2,2% dos entrevistados admitiram beber antes de dirigir. Porcentual bem mais elevado do que o registrado em agosto, quando 0,91% admitiam dirigir depois de beber.

            O comportamento de risco é mais comum entre homens jovens e com alta escolaridade. De acordo com o estudo, feito ao longo de todo o ano passado, 3% dos homens admitiram associar a bebida com direção. Um porcentual muito maior do que o registrado entre o grupo feminino: 0,3%.

            "Acendemos a luz amarela", afirmou ontem o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao comentar os números, revelados na pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Para ele, o retrocesso nesta área deve ser combatido com fiscalização e repressão. "É preciso que a população tenha receio de dirigir depois de beber." O ministro admite que outro padrão de consciência tem de ser criado. "Mas isso leva tempo e a repressão também faz parte desse processo."

            Na semana passada, Temporão se reuniu com o ministro das Cidades, Márcio Fortes, e com o da Justiça, Tarso Genro, para discutir o assunto. Além da necessidade de bafômetros e de treinamento de pessoal, ele citou a importância de se fazer parcerias com municípios e com Estados, responsáveis pela maior parte da fiscalização. Uma atividade que atualmente está longe de ser ideal. Para tentar combater o retrocesso, também será lançada mais uma etapa da campanha alertando sobre os riscos de beber alcoolizado.

FAIXA ETÁRIA

            Porto Alegre e São Paulo são as capitais que apresentam os menores índices de associação entre bebida e álcool: 0,7% e 0,8%, respectivamente, dos entrevistados. Boa Vista, com 3,3%, é a líder do País nesse comportamento. Em seguida, vem Teresina, com 3,2%. "A hipótese mais provável é que nesses locais a fiscalização seja menor", disse a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta.

            O estudo revela ainda outras diferenças significativas. Mostra, por exemplo, que a associação entre direção e álcool ocorre principalmente entre 25 e 34 anos, para ambos os sexos. Nessa faixa etária, 4% dos homens e 0,7% das mulheres admitem beber antes de dirigir. No grupo de pessoas com mais de 55 anos, esse indicador cai para 1,7% para o grupo masculino e 0,1%, para o feminino.

ESCOLARIDADE

            Quando se analisa a escolaridade, se nota também que há um grupo em que o risco desse comportamento está mais presente: os que têm 12 anos ou mais de estudo. No grupo masculino com essa escolaridade, 5,6% admitiram o comportamento. Entre mulheres com a mesma escolaridade, esse porcentual foi de 0,9%. Mesmo assim, significativamente mais alto do que o registrado entre mulheres com até oito anos de estudo: 0,3%.

UM QUINTO DOS BRASILEIROS CONSOME ÁLCOOL EM EXCESSO

             Quase um quinto da população brasileira bebe em excesso. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostra que o consumo abusivo foi de 19%, um porcentual maior do que havia sido registrado na primeira versão do estudo, feita em 2006. Naquele ano, 16,1% da população consumia bebidas alcoólicas de maneira abusiva. A tendência de aumento é constatada principalmente entre mulheres de maior escolaridade.

ENTENDA OS EFEITOS DO ÁLCOOL NO ORGANISMO E OS LIMITES DEFINIDOS PELA LEI

            "É um número preocupante", afirma a coordenadora da área de Doenças e Agravo Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta. A pesquisa, feita ao longo de 2008 com 54,3 mil pessoas, não analisa as causas desse aumento. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, no entanto, arrisca uma interpretação para o fato de o risco aumentar principalmente entre as mulheres. "O fenômeno é resultado de uma série de quesitos, como independência e maior participação no mercado de trabalho."

            Apesar do aumento do abuso de bebida entre mulheres nos últimos anos, o porcentual de homens com mesmo comportamento é ainda três vezes maior. Nesta edição do Vigitel, 29% disseram ter bebido no último mês mais de cinco doses em uma única oportunidade. Entre mulheres, esse porcentual foi de 10,5%. "No grupo feminino há uma diferença: consideramos beber em excesso quatro doses em uma única oportunidade", conta Deborah.

JOVENS

            Assim como ocorre na associação entre álcool e direção, os jovens são os que têm maior risco de consumir de forma excessiva a bebida. Entre homens de 18 a 24 anos, 29,1% afirmaram ter esse tipo de comportamento. Entre 25 e 34 anos, esse porcentual salta para 35,9%.

            Nas faixas etárias mais altas, o índice vai caindo. No grupo feminino, o risco ocorre mais precocemente: 14,3% das mulheres entre 18 e 24 anos bebem em excesso. Esse porcentual cai um pouco (12,2%) na faixa etária seguinte, de 25 a 34 anos. A partir daí, os indicadores caem até chegar a 1,6% (mulheres com 65 anos ou mais).


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