Publicado em: 29/04/2009
Entre os transtornos mentais, a dependência química é a mais comum em Maringá; crack faz lotar as 12 vagas da ala reservada para os adolescentes no Hospital Psiquiátrico
Adolescentes são incentivados a expressar sentimentos em desenhos, no Hospital Psiquiátrico: apesar da idade, internações já são rotina.
No domingo (26), cinco dependentes químicos fugiram do Hospital Psiquiátrico de Maringá. Eles têm entre 20 e 25 anos e ameaçaram os funcionários que cuidam da entrada. Usuários de drogas como esses são maioria entre os internados no hospital. Dos 240 leitos mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 50 são ocupados por dependentes químicos.
A ala de adolescentes, inaugurada no ano passado com 12 leitos, está lotada de jovens que também foram internados por dependência de drogas – sobretudo o crack. A epidemia de drogadição na região coincide com o avanço de outras patologias psiquiátricas, como a esquizofrenia, a depressão, a epilepsia e o transtorno bipolar.
"Por mais que se abram vagas, a demanda sempre vai ser maior", afirma o enfermeiro Josué Sampaio. O profissional explica que as famílias não têm condições de lidar sozinhas com pessoas que apresentam transtorno mental. "Por mais que a família esteja preparada, no momento das crises fica difícil contornar a situação", analisa Sampaio.
A Prefeitura de Maringá gasta por dia R$ 8.544 para manter os 240 leitos do Hospital Psiquiátrico. O pagamento entra na cota que o município tem no SUS, mas as vagas são utilizadas por municípios de três regionais estaduais de saúde: Maringá, Campo Mourão e Cianorte, num total de 67 municípios.
Drama
Na ala de adolescentes, a diferença entre oferta de vagas e número de pacientes que precisam ser internados é ainda mais dramática. São 12 vagas para o atendimento de adolescentes de até 18 anos, do sexo masculino, de seis regiões paranaenses: Maringá, Campo Mourão, Cianorte, Apucarana, Ivaiporã e Telêmaco Borba. A internação de garotas da mesma faixa etária para essas regiões é feita em Jandaia do Sul.
Em todas essas regiões, mesmo nas cidades menores, a dependência química é um problema crônico. O problema da suboferta de vagas deve-se principalmente à falta de estrutura de atendimento básico nas pequenas localidades, fazendo com que o sistema público de Maringá fique sobrecarregado.
"No município que investe numa rede extra-hospitalar forte, a necessidade de internações diminui imensamente", afirma a coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde de Maringá, Alessandra Massi Puziol Alves.
Ela explica que esta rede extra-hospitalar começou a ser fortalecida em Maringá há sete anos. "Além dos 25 leitos psiquiátricos mantidos no Hospital Municipal, que são a porta de entrada da pessoa com transtorno mental na rede pública, temos dois Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e duas residências terapêuticas", informa Alessandra.
Cada um dos dois Caps atende em média 200 pacientes por mês. Eles são ambulatórios – sem local para internação – separados para dependentes químicos e portadores de outras patologias mentais.
Sem família
As residências terapêuticas são casas mantidas pela prefeitura e pelo Ministério da Saúde para pacientes que passaram muito tempo em internações psiquiátricas e perderam o vínculo familiar. "Eles foram abandonados pela família ou simplesmente perderam o contato. Por isso, precisam de uma casa para ficar, quando não estão nos Caps", explica Alessandra, que é psicóloga.
Cerca de 50 profissionais trabalham diretamente com pacientes psiquiátricos na estrutura de saúde municipal. Além das unidades de atenção específica, a psicóloga destaca que mesmo as unidades mais básicas de saúde podem conter a demanda por leitos psiquiátricos em Maringá.
"Os assistentes sociais, clínicos de postos de saúde e equipes do Programa Saúde da Família de todas as cidades são capazes de identificar transtorno de maneira precoce, fazendo com que muitos casos de internação sejam evitados", avalia Alessandra.