Publicado em: 02/06/2009
Por contrariar as estatísticas sobre acidentes aéreos, o voo da Air France que desapareceu vai deixar as viagens mais tensas, afirma o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, do Hospital das Clínicas.
O problema no Airbus ocorreu quando a aeronave estava em pleno voo, situação em que é rara a ocorrência de quedas (cerca de 6% dos acidentes). Os momentos mais perigosos são a aterrissagem e a decolagem.
"O acidente revela a vulnerabilidade que existe, mesmo em pleno voo, mas que só aparece quando há acidentes", diz.
Barros Neto afirma que o acidente deve potencializar o medo de quem já tem a fobia -mas não aumentará o número de pessoas com o problema.
"A fobia de voo está mais ligada a situações irracionais do que a um fato real", afirma.
Abaixo, a entrevista com o psiquiatra, que trabalha no ambulatório de ansiedade do Instituto de Psiquiatria do HC e é autor do livro "Sem Medo de Ter Medo" (editora Casa do Psicólogo).
FOLHA - Esse acidente, em pleno voo, pode aumentar o número de pessoas com medo de voar?
TITO PAES DE BARROS NETO - Acho que não. A fobia de voo está mais ligada a situações irracionais do que a um fato real.
FOLHA - Esse acidente pode deixar as viagens mais tensas agora?
BARROS NETO - Pode. Diante de uma notícia dessas, as pessoas podem se sentir mais vulneráveis. O acidente revela a vulnerabilidade que existe, mesmo em pleno voo, mas que só aparece quando há acidentes.
FOLHA - Como diminuir a tensão?
BARROS NETO - Há várias técnicas de relaxamento. Muitos livros ensinam isso, dá para fazer na poltrona do avião. E lembrar de informações que tenham obtido sobre segurança. Usar isso como um mantra: "Calma, acidentes [aéreos] ocorrem, mas com uma incidência muito menor do que os de carro".
FOLHA - São três grandes acidentes aéreos em apenas três anos no país. Pode aumentar o número de pessoas com medo de voar?
BARROS NETO - Penso que não. Quem tem medo de voar não tem medo apenas do desastre aéreo. Tem medo de ficar fechado no avião, da altura, de passar mal, das sensações da turbulência. Não é medo apenas de o avião cair.
FOLHA - Como diminuir o medo?
BARROS NETO - Algum tipo de educação pode ajudar. Se uma pessoa tem medo de elevador e você explica que há sistemas de ventilação, que ela não vai morrer por faltar de ar, causa um certo alívio. Da mesma forma com relação à fobia de voo.
Você saber, por exemplo, que acidentes de carro acontecem com uma prevalência 15 vezes maior do que os avião pode ajudar [a acalmar]. Quantas aterrissagens e decolagens estão acontecendo agora? Quantos acidentes aéreos acontecem? É muito menos que atropelamentos, acidentes de carro.
FOLHA - Essas informações já são bem divulgadas. Por que ainda há tanto medo de voar?
BARROS NETO - O medo tem características irracionais. Mas se a pessoa lembrar de alguns dados objetivos, isso pode ajudar.