Publicado em: 22/06/2009
AR LIVRE
Associação de bares e restaurantes afirma que fumante gasta 38% a mais
Motivo de alegria de muitos cidadãos que se incomodam com a fumaça de cigarro, a lei antifumo preocupa proprietários de estabelecimentos que têm clientes fumantes.
A partir de 6 de agosto, bares, escritórios, lojas, danceterias, casas de show, escolas, táxis, restaurantes e todos os espaços coletivos do Estado de São Paulo, públicos ou privados, deverão proibir o fumo em locais fechados, ainda que os espaços sejam destinados para tal.
A lei nº 13.541, de 7 de maio de 2009, sancionada pelo governador José Serra, determina o fim dos fumódromos. Cigarros só poderão ser acesos em locais ao ar livre, como varandas, desde que não sejam protegidas por toldos laterais.
Nos diversos estabelecimentos que não têm área aberta, o fumo terá de ser proibido.
A Vigilância Sanitária irá realizar blitz nos negócios, e as punições para casos de infração são graduais. A primeira autuação é passível de multa, que varia de R$ 720 a R$ 3.000 -valor que dobra na reincidência. Na terceira infração, o estabelecimento deverá fechar por 48 horas, e, na quarta, por 30 dias, que podem ser prorrogados.
A lei teve receptividade por alguns. Levantamento do Sindicatos dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de São Paulo e Região, com 550 trabalhadores (fumantes e não fumantes) de 180 estabelecimentos, apontou que cerca de 80% dos entrevistados aprovaram o projeto.
Receio
De outro lado, há uma preocupação com a queda de receita de locais em que os clientes costumam poder fumar. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), um fumante gasta 38% mais que um não fumante.
Com isso, empresários já começaram a mudar seus empreendimentos. O Casa Club, na Vila Madalena, local que reúne albergue da juventude e bar, separou o solário do estabelecimento para que os hóspedes possam fumar -antes, os cigarros eram permitidos em todas as dependências, com exceção de banheiros e quartos.
Para quem vai só ao bar, no entanto, não restou alternativa. "Vamos permitir que o cliente saia para fumar", afirma Sávio Mourão, um dos proprietários. Há um segurança na porta, mas ele vê a medida com cautela. "Podemos perder receita com clientes que fujam."
Foco
Após um ano de vigência, motoristas ainda driblam fiscalização da lei seca
Foi-se o primeiro ano da lei seca e, nesse tempo, diminuíram as mortes, as internações e os gastos dos hospitais com feridos em acidentes, segundo fontes oficiais e entidades de segurança do tráfego. Mas, alheia às estatísticas, nos bares a lei já deixou de ser assunto nas rodas de amigos.
O medo de ser flagrado dirigindo alcoolizado em uma blitz já não é mais aquele e, com ele, diminuiu também o pudor dos motoristas de admitir que retomaram (alguns nem sequer chegaram a perder) o costume de beber e sair dirigindo.
Em uma mesa de bar na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, o casal Marcos Imparato, 30, e Juliana Moraes, 24, estava apenas na segunda garrafa de cerveja. "Passei a beber com mais moderação", diz Marcos. Então vão parar por aí? "Ainda vamos beber mais duas. Ou três, quatro, cinco... Não vou sair trançando as pernas", diz.
Juliana também diz que passou a "moderar" mais no consumo de álcool depois da lei seca. Mas admite que não trocou o carro pelo táxi quando sai para a balada -além de "odiar" ter que depender de carona, ela "nunca mais viu uma blitz". "Acabou, virou lenda", diz ela, que "só nos primeiros dias" da lei se preocupou em ser parada.
Apesar da impressão dos motoristas, a Polícia Militar afirma ter intensificado as blitze neste ano em relação a 2008. Diz que o total de veículos vistoriados cresceu 15% nos primeiros seis meses deste ano em relação ao segundo semestre de 2008. E que o número de multas a motoristas alcoolizados cresceu 50,5% entre esses dois períodos.
Na mesa ao lado da do casal, o administrador de empresas Vitor Patrick, 26, dividia dois baldes de cervejas com nove amigos. "Estou apreciando uma cervejinha sim. Ninguém aqui parou de beber. A pessoa tem que ter discernimento, saber quando está bem [para dirigir]", diz ele, que só vai de táxi "às vezes", quando já sai de casa sabendo que "vai beber vodka" na balada.
Em todas as oito mesas observadas pela reportagem por três horas, na quinta-feira, havia alguém que bebia mais de cinco copos de cerveja - apenas um já seria suficiente para levar à suspensão da habilitação. E em três dos quatro grupos que aceitaram dar entrevista, houve quem admitisse que iria para casa dirigindo -embora ninguém considerasse estar bebendo demais.
O que os motoristas entrevistados consideram consumo "moderado" de bebida é tido como abusivo pelo Ministério da Saúde - isto é: pelo menos quatro doses de álcool para as mulheres e cinco para os homens (uma dose equivale a um copo de cerveja).
Pesquisa do ministério mostra que o percentual da população que admite dirigir após beber abusivamente chegou a cair pela metade nos primeiros meses da lei seca. Mas, agora, essa incidência já voltou aos níveis de antes da medida (em torno dos 2%).
O índice chegou a cair para 0,9% em agosto, e se manteve na casa de 1% até outubro. Mas voltou a crescer e, em dezembro, chegou a 2,6% - o recorde num mês desde julho de 2007, quando a pesquisa começou. O patamar é considerado alto pelo Ministério da Saúde.