Mistura fatal deixa mil mortos no Paraná

Publicado em:  29/06/2009

A combinação entre álcool e volante seria a causa da metade dos óbitos ocorridos em acidentes automobilísticos, segundo o Ministério da Saúde. No Paraná, só no ano passado, foram 2.077 mortes

 

Ponta Grossa - Se beber, não dirija. O conselho, que virou banal de tanto ser repetido, poderia mudar as estatísticas. Todos os anos, o trânsito brasileiro provoca em média 35 mil mortes. Segundo o Ministério da Saúde, metade está relacionada ao uso abusivo do álcool. No Paraná, em 2008, conforme o Mapa do Crime elaborado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública, 2.077 pessoas faleceram em acidentes automobilísticos, o que representa afirmar que 1.038 vidas seriam poupadas se a combinação álcool e direção não tivesse acontecido.

 

As pesquisas sobre o tema são escassas. A explicação está no fato de não haver um protocolo de atendimento que exija a informação de que a vítima (ferida ou morta) estava com álcool no sangue. No Instituto Médico Legal (IML) do Paraná, por exemplo, a coleta de alcoolemia é feita, mas não é realizado o levantamento estatístico.

 

Dor sem fim para quem fica

 

"Eu cheguei bem perto do ouvido dele e disse que a gente não ia se ver mais. Mas, que nos veríamos um dia de novo, com Jesus Cristo. Eu vi que ele apertou os olhinhos e saiu uma lágrima." A frase é da confeiteira Débora Cristina de Godói Gonçalves, que viu o filho Guilherme, de 13 anos, em coma num hospital de Ponta Grossa depois de ser atropelado por um motorista embriagado.

 

 

Só nos últimos dois anos, a Secretaria Nacional Antidrogas, do governo federal, iniciou em conjunto com o Centro de Pesquisas em Álcool e Drogas (Cpad), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma série de oito estudos que buscam respostas sobre o impacto do consumo de bebida alcoólica no trânsito. O investimento foi de R$ 2 milhões e, mais do que reunir estatísticas, o trabalho visa servir de fundamentação para políticas públicas que venham a reduzir, no futuro, a incidência de mortes causadas por motoristas bêbados.

 

Os dados preliminares começaram a surgir. Um grupo de acidentados pesquisados nos atendimentos de emergência de Porto Alegre revelou que 8,7% estavam com álcool no sangue e que 28,5% haviam consumido bebida alcoólica durante as 24 horas que antecederam o acidente. A médica psiquiatra e pesquisadora do Cpad, Raquel De Boni, comenta que a discrepância se dá pelo intervalo de tempo entre o acidente e a coleta do sangue no hospital.

 

A intenção, segundo ela, é realizar o mesmo estudo nos setores de emergência de todas as capitais brasileiras. No ano passado, segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran), ocorreram 44,9 mil acidentes que deixaram 58,7 mil feridos. Se a realidade paranaense seguir a gaúcha, um contingente de pelo menos 5 mil pessoas teria se ferido em acidentes com motoristas embriagados, apenas no ano passado. "Mas é preciso fazer uma pesquisa no Paraná para ter uma resposta precisa", acrescenta Raquel.

 

Lei seca

 

A lei seca, que completou 1 ano de vigência no último dia 20, visa reduzir a violência no trânsito. Conforme o Ministério da Saúde, o volume de internações na rede pública das capitais brasileiras caiu 23% desde a entrada da nova legislação. A Polícia Rodoviária Federal demonstrou que, após a lei seca, o número de mortes caiu 2%.

 

Para a coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná, Iara Thielen, o risco de ser multado ou preso é que leva o motorista a mudar o comportamento. "Ouvimos muito em nossas pesquisas que os motoristas acreditam que seu comportamento não é de risco, mas sim o dos outros. Então ele não admite que se beber pode causar um acidente grave ou matar alguém", comenta. Somente a Polícia Rodoviária Federal prendeu no Paraná no primeiro ano da lei seca 1.354 motoristas embriagados.

 


TAGS


<< Voltar