Terreiro de umbanda bane fumo de ritual

Publicado em:  17/08/2009

Templo tomou decisão mesmo sendo permitido o uso de charutos em rituais religiosos feitos em ambientes fechados. A proibição vale para o salão fechado, de acesso público, onde acontecem as festas e o atendimento aos filhos de santo e seus consulentes.

Ao menos no terreiro de umbanda Guaracy, no Jardim Ipê, zona sul de São Paulo, o santo da lei antifumo é forte. Mesmo permitido pela nova legislação, que abre exceção para templos religiosos em que o fumo ou a fumaça façam parte do ritual, os caboclos, boiadeiros, marinheiros, pretos velhos e demais entidades daquela crença aboliram o charuto, o cachimbo e a cigarrilha das rodas de jira.

A proibição, que começou na sexta-feira 7, mesmo dia em que a lei antifumo entrou em vigor em todo o Estado, diz o babalorixá Carlos Buby, 59, ele próprio um fumante desde os 14 anos, foi referendada pelos guias espirituais do templo e motivada para que o terreiro umbandista "se afinasse com a lei dos homens".

Por lá, confirmam os vizinhos, o batuque nunca passa das 22h para respeitar também a lei do silêncio. O banimento do fumo no terreiro Guaracy segue à risca a nova lei. A proibição vale para o salão fechado, de acesso público, onde ocorrem as festas e o atendimento aos filhos de santo e aos consulentes. No quintal de terra batida, ao ar livre, no sítio onde é feita boa parte das oferendas, as entidades fumam charutos livremente nos rituais.

A exceção é para Exu, que pode fumar o charuto em ambientes fechados, explica o pai de santo Buby, porque o contato com essa entidade é fechado ao público e exclusivo para os iniciados na religião umbandista.

"É nesse momento que a cabocla deveria estar fumando o charuto e está de mãos vazias", diz Ana Paula da Costa, seguidora do templo Guaracy.

"Não sabíamos como iria acontecer porque as entidades trabalham com a fumaça, mas os caboclos trazem segurança. É uma novidade. Antes, o gosto do charuto ficava até o dia seguinte, agora não sinto mais", afirma a médium Sílvia Dias, que na última quinta-feira recebia a cabocla Potira, pela primeira vez sem o rolo de fumo.

"Imagine 15 médiuns fumando charuto nesse espaço pequeno com outras 150 pessoas. A proibição não pesou em nada nos trabalhos da umbanda. Agora, as grávidas e crianças podem participar", diz o babalaô Carlos Buby.

Para o professor titular aposentado de sociologia da USP Reginaldo Prandi, autor de mais de 20 livros sobre religiões afro-brasileiras, a decisão do terreiro Guaracy é minoritária e não é representativa da umbanda em geral. Para ele, a mudança é positiva e faz parte da transformação das religiões, que antes ditavam tendências e agora são pautadas pelo comportamento coletivo.

Prandi diz que a fumaça dos charutos é uma herança indígena usada nos rituais de cura para canalizar energia e fluidos na limpeza espiritual. Agora, explica o professor aposentado da USP, os guias podem usar as mãos, como nos passes dos médiuns kardecistas. Presidente da Federação Brasileira de Umbanda, que reúne 5.325 terreiros no país, Manoel Alves de Souza diz que a abolição dos charutos no templo Guaracy após a lei antifumo "faz parte da evolução da religião".

Lei antifumo de SP é aprovada por 88%

Entre fumantes, aprovação atinge 71%; apoio cresceu oito pontos percentuais na cidade de São Paulo de maio a agosto. Instituto Datafolha ouviu 2.052 pessoas em todo o Estado na semana passada, após o primeiro final de semana com a lei em vigor.

A lei que proíbe fumar em lugares fechados de uso coletivo no Estado de São Paulo agradou os paulistas.

Pesquisa Datafolha feita na semana passada aponta que 88% dos moradores do Estado aprovam a lei. Outros 10% se declararam contra a restrição e 2% disseram ser indiferentes.

A restrição agradou até mesmo os próprios fumantes, que agora precisam sair de bares e restaurantes para fumar na calçada ou outros locais ao ar livre -os fumódromos também estão proibidos.

Segundo o Datafolha, 71% dos fumantes estão a favor da lei, 26% são contra e 3% se declaram indiferentes.

A lei entrou em vigor no dia 7 deste mês. O Datafolha foi às ruas entre os dias 11 e 13, após o primeiro fim de semana da restrição. Foram entrevistadas 2.052 pessoas com 16 anos ou mais em 56 cidades do Estado. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Este é o primeiro levantamento com esta abrangência feito pelo Datafolha sobre a lei antifumo. Em maio, logo após a lei ser sancionada pelo governador José Serra (PSDB), o instituto ouviu apenas moradores da capital.

Na ocasião, 80% dos paulistanos se declararam favoráveis à medida, 14% eram contrários e 5%, indiferentes. De lá para cá, a adesão dos moradores da capital cresceu para 87%. Outros 11% são contrários e 2% estão indiferentes.

No Estado de São Paulo, 24% dos moradores com mais de 16 anos são fumantes. No interior fuma-se mais (26%) que na capital (23%) e nos demais municípios da região metropolitana de São Paulo (19%).

O Datafolha apurou que 99% dos paulistas tomaram conhecimento das novas regras sobre o fumo no Estado, e que 79% se consideram bem informados.

Neste aspecto, há um dado curioso na pesquisa: 18% disseram ter tomado conhecimento da restrição, mas confessaram estar mal informados sobre o assunto. Pois são justamente estes que mais reprovam a medida: 24% dos mal informados confessos são contra a lei.

A pesquisa demonstrou ainda que os fumantes estão mais bem informados sobre as restrições que os não-fumantes. De acordo com o Datafolha, 84% dos fumantes se consideram bem informados sobre a lei. Entre os não-fumantes, o índice cai para 77%.

Segundo a pesquisa, os paulistas acreditam que a lei será positiva para os bares e restaurantes (71%) e principalmente para os não-fumantes (91%).

 


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