Publicado em: 04/10/2009
ROTERDÃ, Holanda - Quando dois
inspetores holandeses abriram as portas de um surrado contêiner vermelho,
encontraram um cemitério de lixo eletrônico europeu -fios, medidores elétricos,
placas de computador- misturado a restos de papelão e plástico.
"Isso iria à China, mas
não irá a lugar nenhum", disse Arno Vink, inspetor do ministério holandês
do Meio Ambiente que apreendeu o contêiner com base nas novas e rígidas leis da
Europa contra a exportação de qualquer tipo de lixo -de canos velhos a
computadores quebrados e detritos domésticos.
A exportação ilegal de lixo a
países pobres é um negócio internacional crescente, já que as empresas tentam
minimizar os custos de novas leis ambientais, como as da Holanda, que taxam o
lixo ou exigem que ele seja reciclado ou dispensado de forma ambientalmente
correta.
Roterdã, o porto mais
movimentado da Europa, tornou-se sem querer o principal duto de escoamento de
detritos da Europa, para destinos como China, Indonésia, Índia e África. Nesses
lugares, o lixo eletrônico e o entulho de construções, contendo substâncias
tóxicas, costumam ser desmantelados por crianças, com grande prejuízo para sua
saúde. Outros tipos de lixo que, pela lei europeia, deveriam ser reciclados são
simplesmente queimados ou deixados para apodrecer, poluindo o ar e a água.
Embora parte do comércio
internacional de detritos seja legal, outra parcela não é. Por um preço,
comerciantes clandestinos fazem os detritos da Europa desaparecerem no
exterior.
Depois que a Europa passou a
exigir a reciclagem de produtos eletrônicos, 2 a 3 toneladas de lixo eletrônico
foram entregues no ano passado, bem menos do que as quase seis toneladas
previstas. Grande parte do resto provavelmente foi exportada ilegalmente,
segundo a Agência Ambiental Europeia.
A exportação de lixo metálico,
plástico e de papel da Europa multiplicou-se por dez de 1995 a 2007, diz a
agência, com 20 milhões de contêineres de detritos sendo embarcados anualmente,
legal ou ilegalmente.
Nos EUA, mais Estados estão
aprovando leis que exigem a reciclagem. Mas, por haver no país menos
monitoramento e restrições à exportação do que na Europa, esse volume está
fluindo de forma relativamente livre ao exterior. Até cem contêineres de lixo
de EUA e Canadá chegam por dia a Hong Kong, segundo ambientalistas e
autoridades.
"Agora estamos recolhendo
bem mais, mas eles não podem impedir que isso vá ao exterior", disse Jim
Puckett, diretor da ONG Basel Action Network, de Seattle, que acompanha o lixo
exportado dos EUA.
A tentação de exportar lixo é
grande porque a reciclagem interna adequada é custosa: é quatro vezes mais caro
incinerar lixo na Holanda do que colocá-lo ilegalmente em um barco rumo à
China. "O tráfico nas exportações de detritos se tornou enorme, mas
precisamos de mais informação a respeito", disse Christian Fischer,
consultor da Agência Ambiental Europeia, que divulgou neste ano seu primeiro
estudo sobre o tema.
Os holandeses assumiram a
liderança solitária na inspeção das exportações de lixo e na restrição ao
tráfico e estimam que 16% das exportações sejam ilegais. Mas, na maioria dos
portos, onde os inspetores alfandegários costumam checar bem mais as
importações que as exportações, grande parte provavelmente passa despercebida.
Em julho, uma carga de 1.400
toneladas de lixo doméstico britânico que havia sido enviada ilegalmente para a
América Latina -rotulada como plástico para reciclagem- só foi apreendida após
aportar no Brasil.
Roterdã usa raios-X e análises
informatizadas para selecionar os contêineres suspeitos. Mas outros países
precisam se empenhar mais, disse Albert Klingenberg, do ministério holandês do
Meio Ambiente.
"Quando eles não conseguem
mandar [o lixo] por Roterdã, vão para Antuérpia ou Hamburgo", disse.