Publicado em: 07/10/2009
Estudo revela que brasileiro não associa fatores hormonais, tabagismo e
gravidez a problema ocular. Alterações hormonais, que ocorrem na gravidez e na
menopausa, podem causar olho seco, uma das maiores queixas nos consultórios
A maioria dos brasileiros
desconhece fatores de risco importantes para doenças oculares, revela uma
pesquisa realizada com 1.007 pessoas de 18 a 59 anos sobre a percepção da saúde
dos olhos.
O levantamento, patrocinado por
um fabricante de lentes fotossensíveis, foi realizado no Brasil e em mais sete
países pelo instituto de pesquisa independente Harris Interactive.
Entre as mulheres, 85% não
sabem ou não acreditam que a gravidez interfira na visão; 74% ignoram os
efeitos dos medicamentos e 56% têm a mesma impressão sobre o cigarro. O estudo
não apontou diferenças significativas na percepção entre os gêneros, mas outras
pesquisas mostram que as mulheres são o grupo mais atingido por problemas oculares
-dois terços dos cegos são do sexo feminino, de acordo com a Organização
Mundial da Saúde.
"Esses dados incomodam
porque mostram como as mulheres estão desinformadas sobre situações que elas
vivem, como a gravidez. Os homens também não sabem, mas eles não vão passar por
isso nem pela menopausa", afirma Denise Fornazari, coordenadora do Núcleo
de Prevenção à Cegueira da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Segundo a médica, durante a
gravidez ocorrem mudanças hormonais que provocam edema em diversas partes do
corpo, assim como em algumas estruturas do olho.
Essas mudanças levam a
alterações fisiológicas reversíveis, como diminuição de sensibilidade da córnea
-que afeta especialmente quem usa lente de contato- e modificações do índice de
refração, que causa mudança temporária no grau dos óculos. Já os problemas
patológicos são mais frequentes em diabéticas e hipertensas.
O tabagismo, segundo Marcela
Cypel, oftalmologista do Instituto da Visão da Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), está associado a alterações circulatórias. "Quando a pessoa
tem diabetes e hipertensão, aumentam ainda mais os riscos para a visão. E, além
das modificações sistêmicas, que repercutem no olho, tem a fumaça, que causa
irritação."
Os medicamentos também podem
prejudicar a visão de homens e mulheres, segundo ela. "Há uma lista de
remédios que causam depósito de substâncias na córnea e na retina e até mesmo
catarata. Os corticosteroides, por exemplo, se usados cronicamente e em altas
doses, podem provocar catarata e glaucoma", afirma.
Os fatores hormonais, que a
maioria dos brasileiros não relaciona a problemas na visão, causam diminuição
na secreção da glândula lacrimal, o que pode provocar olho seco. "Dá um
desconforto ocular, com sensação de ardor e vermelhidão, que é uma das
principais queixas dos pacientes e ocorre principalmente na
pós-menopausa", diz o oftalmologista Newton Kara José Jr., do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Risco conhecido
Outros fatores de risco, como
hipertensão, diabetes e catarata, têm seu impacto na saúde dos olhos
reconhecido. Entre as mulheres, 89% sabem que o diabetes prejudica a visão,
contra 59% dos homens.
"Os dados são preocupantes
porque se a pessoa não conhece ou acha que não tem importância deixa de fazer
exames regulares. A recomendação é que a população faça exames a cada dois anos
até os 40 anos e, depois disso, anualmente. Mas as pessoas só vão ao
oftalmologista quando precisam de óculos. Elas estão descuidando da
saúde", diz Denise Fornazari.
Para Kara José Jr., a pesquisa
mostra, no entanto, que os fatores mais importantes são conhecidos. "O que
pode causar dano irreversível é sabido, caso do diabetes e da degeneração
macular. Mas as ações de conscientização poderiam envolver também o conforto
ocular, principalmente na gravidez e na menopausa", diz.