Publicado em: 07/10/2009
Pesquisa com 10.094 espanhóis mostrou que cardápio mediterrâneo tem
efeito protetor no cérebro. De acordo com o estudo, os voluntários com maior
adesão a essa dieta tinham risco cerca de 30% menor de desenvolver o distúrbio
Fortemente relacionada à
redução de risco para doenças cardiovasculares, a dieta mediterrânea mostrou
efeito protetor contra a depressão em um estudo realizado com 10.094 pessoas. O
trabalho foi publicado na edição de outubro do "Archives of General
Psychiatry", um dos periódicos da Associação Médica Americana.
Pesquisadores das universidades
de Las Palmas de Gran Canaria e de Navarra (ambas na Espanha) avaliaram dados
desses espanhóis, que preencheram questionários de 1999 a 2005 sobre a própria
ingestão alimentar. Eles calcularam a adesão à dieta mediterrânea baseados em
nove itens: maior ingestão de gorduras monoinsaturadas em comparação às
saturadas, consumo moderado de álcool e laticínios, baixa ingestão de carne
vermelha e alto consumo de legumes, frutas, oleaginosas (como nozes e
castanhas), cereais e peixes.
Após acompanharem os voluntários
por cerca de quatro anos, identificaram 480 novos casos de depressão -a maioria
(324 ocorrências) em mulheres. Os que seguiram a dieta apresentaram risco 30%
menor de desenvolver depressão. Para chegar aos resultados, foram ajustados
outros fatores influenciáveis, como estilo de vida, estado civil, doenças
crônicas e uso de antidepressivos.
"Algumas variáveis, como
os que não desenvolveram depressão serem mentalmente mais saudáveis e mais
propensos a aderir a uma dieta mais saudável, não foram medidas. Mas é um
estudo benfeito, com metodologia adequada", pondera a psiquiatra Andrea
Feijó de Mello, da Associação Brasileira de Psiquiatria e pesquisadora da
Unifesp.
Trabalhos anteriores mostram
que populações que consomem altas quantidades de peixes apresentam menores
índices de depressão. Uma das explicações é que o ácido graxo ômega 3 (presente
em peixes de água fria, como o salmão) influencia na estrutura do sistema
nervoso central e no transporte de neurotransmissores.
Os ácidos graxos ajudam na
formação da membrana celular, tornando-a mais fluida. A fluidez das membranas
dos neurônios contribui para uma melhor plasticidade cerebral (capacidade de os
neurônios se comunicarem), fator importante para o equilíbrio emocional do
paciente.
"Quando há empobrecimento
da comunicação, há prejuízos na memória, fluência verbal, criatividade e
iniciativa, que são sintomas da depressão, fazendo a pessoa se tornar mais
vulnerável à doença", diz Renério Fráguas Jr., supervisor da residência
médica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Vitaminas
A dieta mediterrânea também
oferece bons teores de folato e vitamina B12 (presentes em vegetais, peixes e
ovos), nutrientes que participam como cofatores na sintetização de serotonina
no cérebro, neurotransmissor relacionado às alterações no humor.
Segundo Fráguas Jr., alguns
estudos mostram resultados significativos da suplementação em pacientes que têm
depressão e não apresentam melhora com medicamentos.
"É um dos mecanismos para
explicar a associação entre questões nutricionais e depressão. Na prática, já
oferecemos suplementos, principalmente para idosos que podem ter uma diminuição
na absorção desses nutrientes e podem ser mais vulneráveis à depressão."