Publicado em: 11/10/2009
Cresce número de internações e apreensões; 'Se continuar nessa toada vamos ter problemas', admite presidente
A população de internos da Fundação Casa de São Paulo (ex-Febem) cresceu 17% este ano, em comparação com 2008. E mudou o perfil: existem mais adolescentes da classe média cumprindo medidas socioeducativas, sobretudo por envolvimento com o tráfico de drogas. "Há jovens que vêm de uma família estruturada", observa a presidente da instituição, Berenice Giannella. "O pai e a mãe trabalham e os filhos, muitas vezes, se envolvem com o tráfico ou com o roubo porque querem ter acesso a determinados bens, como a moto e o tênis de marca."
O último censo realizado na fundação, de 2006, já indicava que 28% dos infratores eram originários da classe média. "Não só de classe média, mas da alta também", acrescenta o promotor Thales Cezar de Oliveira, da Promotoria da Infância e da Juventude da Capital. Em um levantamento de 2007, a promotoria constatou que 78% dos infratores internados na capital vinham de famílias cujas casas eram próprias. "Isso não quer dizer classe econômica, porque pode ser uma casa simples. Mas denota a existência de estrutura familiar."
Para Berenice, a maior presença de garotos da classe média na Fundação pode estar ligada à expansão do tráfico de drogas, que se tornou a segunda causa de internação, atrás apenas do roubo. "Costumo dizer que a droga "socializa" o crime. Hoje, você tem pessoas da classe média e da classe média alta envolvidas com o tráfico - e não apenas com uso de drogas."
Apesar da construção de 44 novas unidades nos últimos anos, o saldo de vagas livres, que chegou a 500, atualmente é só de 150 - 120 na unidade Vila Leopoldina e 30 na de Itaquera, ambas na capital. "Foi uma surpresa (o aumento de internações). Se continuar, vamos ter lotação", diz Berenice. Para ela, esse movimento também reflete a atuação mais rigorosa da polícia e do Poder Judiciário. "Hoje temos muitos meninos cujo primeiro ato infracional é o tráfico. Não deveriam estar aqui, mas estão." Não deveriam porque, pela regra, o tráfico de drogas implica internação só quando o infrator o pratica mais de uma vez. Para o promotor, observa-se uma nova mentalidade na polícia também, "com um efetivo maior de agentes na rua". "Outro dia a polícia foi à "cracolândia", pegou dez meninos e levou à Fundação. Eles não tinham de estar aqui, precisam de atendimento de saúde", afirma a presidente da Fundação.
O total de jovens apreendidos (detidos em flagrante) no Estado, no primeiro semestre, bateu em 6.206, o que representa um aumento de 5,39% em comparação a igual período de 2008. Ou seja, a taxa de infratores internados cresceu três vezes mais do que a de apreendidos. "Foi totalmente imprevisível. Ficamos três anos com o mesmo número de meninos e de repente estourou", ressaltou Berenice. "A nossa série histórica não indicava que haveria esse crescimento. Se continuar nessa toada, vamos ter problemas." A unidade da Vila Maria (na zona norte da capital), por exemplo, tem 56 vagas. "Consigo colocar 150 (internos) lá. Agora, o que vai virar isso? Vamos ter unidades que não queremos."
Novas Unidades
Mais três unidades da Fundação Casa vão ser inauguradas até dezembro: em São Carlos, no interior paulista; e em Franco da Rocha e Osasco, na Grande São Paulo. Juntas, vão dispor de 168 vagas. A instituição tenta ainda erguer unidades na região do ABC e em Limeira, no interior. Mais de 120 jovens da região de Limeira estão espalhados por unidades de Campinas e Rio Claro, além da capital.