Empresa tenta lidar com onda de suicídios

Publicado em:  11/10/2009

 

PARIS - A onda recente de suicídios na empresa France Télécom trouxe à tona um paradoxo que está ao cerne da sociedade francesa: mesmo contando com proteções trabalhistas sólidas, os trabalhadores se sentem profundamente inseguros.

Uma imagem corrente fora da França é a de uma força de trabalho paparicada, protegida contra demissões por uma estabilidade de emprego quase hermética e favorecida por uma semana de trabalho de 35 horas. Segundo especialistas, sindicalistas e os próprios trabalhadores, porém, a realidade nem sempre corresponde ao retrato pintado.

Marie-France Hirigoyen, psiquiatra que apresentou trabalhos pioneiros sobre o "bullying" e as relações no local de trabalho, comentou: "Quando comecei como psiquiatra, 35 anos atrás, meus pacientes falavam de suas vidas pessoais. Agora, o assunto principal é o trabalho. As pessoas estão sofrendo em seus locais de trabalho. Desde a lógica da direção, elas não deveriam estar. Afinal, elas têm um bom emprego e gozam de férias agradáveis. Mas estão sofrendo."

Em termos estatísticos, os 24 suicídios de funcionários da France Télécom desde fevereiro de 2008 -oito dos quais desde o início do verão francês deste ano- não são extraordinários para uma empresa que emprega 102 mil pessoas na França.

A Organização Mundial de Saúde situa o índice de suicídios na França em 26,4 por cada 100 mil homens e 9,2 em cada 100 mil mulheres em 2005. Entre as grandes economias europeias, é o índice mais alto, mas ainda fica muito atrás do Japão.

Especialistas em saúde mental hesitam em atribuir um suicídio a qualquer causa isolada. Mas o que vem chamando a atenção do público e do governo francês é que muitos dos suicídios, além de mais de uma dúzia de tentativas de suicídio fracassadas, foram atribuídos por especialistas e autoridades trabalhistas a problemas relacionados ao trabalho.

"O estresse virou esporte nacional", disse Michel Marchet, secretário da divisão de bancários da Confederação Geral do Trabalho francesa. "Precisamos que os empregadores modifiquem a organização do trabalho, mas a impressão é que nada vai acontecer no futuro próximo."

Não obstante a lei que limita a carga horária semanal de trabalho a 35 horas, dados da UE mostram que os franceses trabalharam em média 41 horas por semana no ano passado, o que os situa em 13? lugar entre os 27 países do bloco (a Áustria, com 44 horas de trabalho semanais, foi a primeira colocada). A France Télécom ocupa uma posição incomum: apesar de ter sido parcialmente privatizada em 1997, 66% de seus empregados ainda são classificados como funcionários públicos e não podem ser demitidos. Mas mesmo esse nível de estabilidade no emprego pode gerar estresse.

A France Télécom está sendo obrigada a competir com empresas privadas em um mercado global em processo acelerado de transformação. Entre 2006 e 2008, a empresa cortou mais de 22 mil vagas de trabalho, por demissões voluntárias.

O líder sindical Sébastien Crozier estima que, nos últimos cinco anos, metade de todos os funcionários da France Télécom passou por mudanças de cargo na empresa, transferências de local de trabalho ou as duas coisas. Isso, diz ele, gerou um clima de transtorno e insegurança e a sensação de que os gerentes estão propositalmente pressionando funcionários a se demitirem.

A empresa prometeu congelar transferências de funcionários até o final do mês, criar um disque-ajuda anônimo e oferecer apoio psicológico adicional. Xavier Darcos, ministro francês do Emprego, disse que o problema do estresse no local de trabalho não se limita à França. Mas criticou a abordagem da France Télécom, dizendo que qualquer reorganização futura será "mais bem supervisionada".

Contudo, agregou, qualquer emprego, mesmo um estressante, é preferível ao ócio -e o índice de desemprego francês foi de 9,8% em julho. "Para nós, o desemprego é o fracasso absoluto", disse Darcos. "Preferimos ter pessoas que não se sintam inteiramente felizes no trabalho a ter pessoas desempregadas."

Dor causada por luto prolongado desperta atenção de cientistas

Cada uma das 2,5 milhões de mortes anuais nos Estados Unidos afeta diretamente quatro outras pessoas, em média. Para a maioria, o sofrimento é finito -doloroso e duradouro, é claro, mas não tão incapacitante que 2 ou 20 anos depois a pessoa mal consiga sair da cama.

Mas estima-se que, para 15% da população enlutada -ou mais de 1 milhão de pessoas por ano, essa dor se torne algo que Katherine Shear, professora de psiquiatria da Universidade Columbia (Nova York), chama de "um sofrimento em 'loop'". E essas pessoas, acrescentou Shear, mal conseguem funcionar. "[O sofrimento] afasta uma pessoa da humanidade e não tem valor redentor", disse ela.

Essa forma extrema, chamada de luto complicado ou desordem do luto prolongado, tem atraído tanta atenção recentemente a ponto de poder ser incluída no DSM-5, o manual da Associação Psiquiátrica Americana para o diagnóstico de transtornos mentais, que sairá em 2012.

Alguns especialistas argumentam que o luto complicado não deveria ser considerado um distúrbio à parte, e sim um mero aspecto de transtornos existentes, como a depressão ou o estresse pós-traumático. Mas outros dizem que as evidências são convincentes.

"De todos os distúrbios que ouvi serem propostos, há melhores dados para este do que para praticamente qualquer outro dos tópicos possíveis", disse Michael First, professor de psiquiatria clínica de Columbia e um dos editores do atual manual, o DSM-4. "Seria loucura da parte deles [especialistas] não levá-lo a sério."

Não há uma definição formal do luto complicado, mas pesquisadores o descrevem como uma forma aguda que persiste por mais de seis meses, pelo menos seis meses depois de uma morte. Seu principal sintoma é uma saudade tão intensa que priva a pessoa de outros desejos. Ele tem sido associado a uma maior incidência de alcoolismo, câncer e tentativas de suicídio. "O luto complicado pode arruinar a vida de uma pessoa", disse Shear.

Em um estudo de 2005 no "Journal of the American Medical Association", Shear apresentou evidências de que um tratamento desenvolvido por ela, parte do qual exige que o paciente relembre a morte, grave essa fala e a ouça diariamente, foi duplamente mais eficaz do que a terapia interpessoal tradicional, usada para tratar a depressão e o luto.

O estudo corroborou sugestões anteriores de que o luto complicado poderia realmente ser diferente não só do luto normal, mas também de outros distúrbios, como o estresse pós-traumático e a depressão aguda.

Especialistas que questionam se o luto complicado é um distúrbio à parte argumentam que é preciso pesquisar mais. "Pode-se dizer com segurança que o luto complicado é uma transtorno, uma coleção de sintomas que causam sofrimento, o que é o começo da definição de uma doença", disse Paula Clayton, diretora médica da Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio. "Entretanto, outros validadores são necessários: histórico familiar e estudos que acompanhem o curso de um transtorno.

Por exemplo, uma vez curado, o paciente vai embora ou aparece anos depois como outra coisa, como a depressão?" A despeito da classificação que seja adotada, a discussão salienta uma questão mais ampla: a necessidade de um olhar mais nuançado sobre a perda. O DSM-4 dedica apenas um parágrafo ao assunto.

Diagnosticar uma forma mais profunda de luto, no entanto, não significa tirar a dor de ninguém. "Não nos livramos do sofrimento no nosso tratamento", disse Shear. "Só ajudamos as pessoas a lidarem com ele mais rapidamente. Pessoalmente, se fosse eu, quereria essa ajuda."

 


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