Publicado em: 24/10/2009
Segurança
Levantamento mostra que Curitiba e região têm três assassinatos de
adolescentes a cada semana. O número é 92% maior do que no ano passado
Um adolescente é morto a cada
dois dias na região de Curitiba. É o que aponta o levantamento da Gazeta do
Povo feito a partir dos boletins do Instituto Médico-Legal da capital de 1.º de
janeiro a 23 de outubro deste ano. Só em 2009, 117 adolescentes, com idades entre
12 e 18 anos, foram mortos em Curitiba e nos municípios vizinhos (64% dos quais
com 17 ou 18 anos). No ano passado, foram 61 casos no mesmo período. Isso
significa um aumento de 92% dos crimes cometidos contra adolescentes de 2008
para 2009. Como alerta, cerca de 3 mil jovens devem fazer hoje uma
manifestação pela paz em Curitiba, em comemoração ao Dia Nacional da Juventude.
Organizado pela Comissão
Juventude da Arquidiocese de Curitiba, o evento tem como lema “Contra o
extermínio da juventude na luta pela vida”. A tentativa é trazer à tona a
discussão sobre os motivos da violência contra o jovem. Para o coordenador da
passeata, padre Alexsander Cordeiro, 32 anos, o importante é incluir o jovem
na sociedade. Ele ressalta que não basta aumentar o efetivo policial. Segundo
ele, é preciso se ter em mente que a solução passa por um tripé: a família deve
estar mais presente; o poder público, se preocupar em criar políticas de
inclusão e espaços de acompanhamentos nos bairros; e a igreja, oferecer
programas para que o jovem possa sair das ruas.
O padre participa há seis anos
de encontros com adolescentes de periferia. Nesse trabalho, já teve momentos de
surpresa. Nas reuniões, é comum ver os jovens citarem os nomes de 10, ou até de
15 jovens conhecidos que foram mortos recentemente. “O jovem está crescendo em
um meio violento, onde vê os amigos morrerem a cada dia”, lamenta o
coordenador.
As regiões mais violentas,
conforme a observação do padre durante os trabalhos desenvolvidos, são a Cidade
Industrial, em Curitiba; e os municípios de Almirante Tamandaré, Colombo,
Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Pinhais, na região metropolitana.
Estratégias
Para o sociólogo Lindomar
Bonetti, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), os dados
revelam a gravidade do problema. Na sua opinião, a adolescência é um período de
vulnerabilidade, em que o jovem não tem maturidade para criar estratégias de
autoproteção. Ele afirma também que os modelos familiares em crise e a busca
por uma identidade podem ser fatores que expliquem o crescimento de mortes a
cada ano.
Falta de condições de vida, com
problemas com habitação, desemprego e drogas, deixam o adolescente suscetível à
violência. “Pegar em uma arma pode trazer a sensação de poder e preenchimento
do vazio social”. Para Bonetti, a solução seria criar programas que envolvam
mais as comunidades de risco. Ele cita atividades esportivas, discussões na
escola e com a família como alguns exemplos. “Só ações governamentais efetivas
podem barrar o excesso de violência. Do contrário, veremos crescer as
estatísticas”.
O programa Atitude, da
Secretaria de Estado da Criança e da Juventude, é uma mostra de que políticas
integradoras podem dar certo. Implantado desde abril deste ano em quatro
cidades da região metropolitana que têm alto índice de violência cometida e
praticada pelo jovem (Almirante Tamandaré, São José dos Pinhais, Colombo e
Piraquara), o Atitude pretende abordar interdisciplinarmente a atuação e a
integração das comunidades e dos jovens para que busquem a solução contra a
violência.
Serviço:
Em comemoração ao Dia Nacional
da Juventude, a Arquidiocese de Curitiba fará o encontro de jovens hoje, sob
tema “A juventude em marcha contra a violência”, a partir das 8h30, em frente
da Catedral Basílica; missa às 9 horas e na sequência um ato público pela paz,
na Rua Monsenhor Celso.
Dias 20 e 21 de novembro
ocorrerá o Fórum que pretende debater políticas públicas para a juventude, no Colégio Bagozzi,
das 9 às 17 horas.
Em outubro
Somente de 1º a 20 de outubro
foram registrados 12 assassinatos de jovens entre 13 e 18 anos na região de
Curitiba. Conheça alguns:
Dia 18
> Policiais militares
encontraram um adolescente de 15 anos morto por agressão dentro de uma galeria
pluvial, no centro de Curitiba.
> Um jovem de 15 anos foi
sequestrado na última sexta-feira e encontrado morto em um terreno baldio no
bairro Cachoeira. Segundo a polícia, o menino seria usuário de drogas.
Dia 15
> Um morador do Tatuquara de
16 anos levou três tiros e morreu no hospital.
Dia 11
> Em três semanas, dois
jovens de uma mesma família foram executados a tiros no Tatuquara. Um deles
tinha 15 anos. A polícia apurou que o jovem seria usuário de drogas.
Adolescente é
baleado em saída da escola
Um telefone celular foi o que
motivou um adolescente de 16 anos a balear o estudante David Fernandes
Carvalho,14 anos, ontem, perto do meio-dia, em Curitiba. O crime ocorreu na
saída do Colégio Estadual Núcleo Social Yvone Pimentel, no bairro Novo Mundo. O
jovem B.F.S. deu voz de assalto a David, que aguardava a condução em frente ao
portão da escola quando foi abordado. O assaltante deu dois tiros com uma arma
calibre 22 que atingiram o ombro e o tórax da vítima. Outros alunos que saíam
do colégio perseguiram B. e o agrediram. Com a chegada da Polícia Militar, os
dois jovens foram levados ao Hospital do Trabalhador.