Psiquiatra da Unifesp apoia internação

Publicado em:  28/10/2009

Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, a internação de certos pacientes com dependência química protege a própria pessoa e as que a cercam.

FOLHA - Algumas internações podem ser involuntárias?
RONALDO LARANJEIRA - Sim. Às vezes, se você esperar a pessoa se tratar, pode expô-la ou expor outros a riscos. Basta um acordo do médico e da família e informar ao Ministério Público. Se a família tiver dinheiro, tem que fazer internação involuntária particular. Se não, terá um grande problema porque o serviço público não tem opções de internação.

FOLHA - E as afirmações do Ministério da Saúde de que tem investido bastante nisso?
LARANJEIRA - Se você for a qualquer hospital geral ou psiquiátrico no Estado de SP, verá um monte de gente esperando internação.

FOLHA - Quem são os mais prejudicados?
LARANJEIRA - O paciente para quem o atendimento ambulatorial não deu certo recusa tratamento. Esses são os que vão estar mais expostos a riscos.

FOLHA - Os CAPs [Centros de Atenção Psicossocial] não admitem internação?
LARANJEIRA - O Ministério da Saúde é contra internação. É uma política pela qual os CAPs deveriam dar conta de todos os casos.
A maioria dos meus pacientes não é internada. Mas alguns são. Ninguém quer a volta dos manicômios. Mas internações em enfermarias psiquiátricas para pacientes que precisam são fundamentais.

FOLHA - O que a família pode fazer para ajudar?
LARANJEIRA - Quando a pessoa fica dependente, é possível que a família já tenha conversado, proibido, etc. Se não consegue resolver, deve procurar um sistema de autoajuda, como o Narcóticos Anônimos. Se não conseguir, vai depender: se tem dinheiro, busca boas clínicas; se busca o serviço público, está frita.

FOLHA - Como vê a política de redução de danos?
LARANJEIRA - Se você é usuário de crack e não quer parar, o ministério vai dar o cachimbo para você usar de forma segura, ou então que use maconha. Não vejo justificativa técnica. É muito discutível adotar para todos, sem insistir na abstinência.

DROGAS:
GOVERNO QUER DOBRAR Nº DE LEITOS PARA DEPENDENTES
O Ministério da Saúde afirmou ter gasto, desde junho, R$ 41 milhões em ações de combate ao uso de álcool e outras drogas, inclusive o crack. Até o fim de 2010, outros R$ 77 milhões serão investidos. O dinheiro será suficiente para quase dobrar o número de leitos psiquiátricos nos hospitais gerais. José Gomes Temporão disse que o consumo de crack é um "problema gravíssimo" que atinge, sobretudo, as grandes cidades. Ele reconheceu que a estrutura de atendimento é insuficiente.


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