Publicado em: 01/11/2009
Artigo escrito pelo jornalista Ruy Castro
RIO DE JANEIRO - A palavra "dependente" começa a se cristalizar no universo da droga. Passou a constar da linguagem das famílias, da imprensa e até da polícia, substituindo aos poucos a antiga e rançosa "viciado", para se referir a uma pessoa presa de uma substância que lhe altera os sentidos e da qual ela parece não poder prescindir. Para alguns, talvez seja uma firula semântica, sem maior significado. Para outros, é um avanço rumo à compreensão do problema.
"Viciado" carrega um estigma de deboche e libertinagem -uma espécie de síndrome de Baudelaire e Edgar Poe no século 19, sem a grandeza literária de ambos-, tornando quase indefensável quem possa ser definido por ela. É sinônimo de sem-vergonha, de alguém que, "podendo levar uma vida regular e estável", prefere encher a cara às 7h da manhã no botequim ou meter-se pelas cafuas em busca de droga.
Supõe-se que o viciado seja assim por vontade própria. Se não se emenda A compreensão do problema não inocenta os que matam sob o efeito da droga. Mas é importante para fazer o Brasil enxergar os seus milhões de dependentes, discutir a sério a descriminação e a saúde pública, e começar uma campanha maciça de esclarecimento e prevenção -nossa única chance de futuro.