Publicado em: 04/12/2009
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ANO |
Produção de
Papoulas (toneladas) |
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1995 |
2.335 |
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1999 |
4.565 |
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2000 |
3.276 |
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2001 |
185 |
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2002 |
3.400 |
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2003 |
3.600 |
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2004 |
4.200 |
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2005 |
4100 |
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2006 |
6100 |
EXPLICAÇÕES
O governo dos EUA atribui ao
Talibã a culpa pelo aumento na produção da papoula e diz que é por meio deste
comércio que o grupo financia ações terroristas. John Walters, chefe da divisão
antidrogas da Casa Branca se disse "desapontado" com os números e afirmou
que "as forças rebeldes do Talibã são o maior impedimento na estabilização
e reconstrução dos esforços no Afeganistão".
Já a ONU acredita que a maior
parte dos ganhos fique com o crime organizado internacional, já que a papoula
sai do país e é vendida a um preço relativamente baixo, se comparado com a
quantidade de dinheiro que o tráfico de heroína movimenta. Além disso, o
relatório atesta que a corrupção dentro do governo afegão - principalmente
dentro do Ministério do Interior e da polícia - é um dos principais entraves
para o combate ao cultivo da papoula. Em tempo: o atual presidente do país,
Hamid Karzai, foi posto pelos EUA no poder em 2001 e foi eleito em 2003, num
processo eleitoral acusado de fraudes.
Reportagem do Washington Post publicada no início de dezembro atribui também a Washington uma parcela de culpa. Argumenta que Washington e o governo afegão formaram alianças com chefes tribais anti-Talibã, alguns dos quais são suspeitos de estar profundamente envolvidos com o tráfico.
DENÚNCIAS
Há quem defenda que a parcela de
participação da Casa Branca é bem maior. O canadense Michel Chossudovsky,
professor de Ciências Econômicas na Universidade de Ottawa, em artigo publicado
na página do Centro de Pesquisa sobre a Globalização, entidade onde é diretor,
afirma que recuperar a produção da papoula e obter o controle das rotas da
heroína fazem parte da agenda estadunidense para a região. "Há negócios e
interesses financeiros poderosos por trás do narcotráfico. Assim, o controle
geopolítico e militar das rotas de drogas é tão estratégico quanto às de
petróleo e seus oleodutos", escreve Chossudovsky, enfatizando que, após o
comércio de petróleo e de armas, o de drogas é o que mais movimenta dinheiro no
mundo (400 a 500 bilhões de dólares por ano).
O pesquisador relembra que
durante os anos de 2000-2001, o regime do Talibã criou um programa de
erradicação da produção de papoula altamente bem sucedido. Os esforços, que
fizeram a produção cair em 94%, foram inclusive feitos com o apoio da ONU que
hoje diz que a ação do Talibã foi apenas para aumentar o preço da droga no
mercado. Entretanto, os números mostram que a invasão acabou por revigorar o
mercado de ópio, cujo preço, em 2002, ficou 10 vezes maior do que em 2000.
Outro mito contestado por Chossudovsky
é de que quem mais se beneficia do tráfico de heroína é o Talibã. A ONU estima
que a contribuição desse comércio para a economia afegã está na ordem dos 2,7
bilhões de dólares. Porém, apenas 5% ficam com os fazendeiros e comerciantes
afegãos. Fazendo cálculos com base no preço de varejo da heroína, somente da
Grã-Bretanha o comércio da droga renderia de 124 a 194 bilhões de dólares.
O pesquisador canadense conta que a ONU também omite a origem da produção de ópio no Afeganistão. Até a invasão do país pela União Soviética (1979-1989), não se produzia papoula. Com o objetivo de desestabilizar a presença soviética, a Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA teve um papel central no desenvolvimento da produção da droga, cujo dinheiro alimentava forças rebeldes. "A economia afegã de narcóticos foi cuidadosamente projetada pela CIA, apoiado pela política externa estadunidense", escreve.