Cresce contrabando de cigarro

Publicado em:  07/12/2009

Christian Rizzi/ Ag. de Notícias Gazeta do Povo

Apreensão de cigarro contrabandeado do Paraguai: volume cresceu 18% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período do ano passado  


Fronteira


Tentativa de diminuir o consumo onerando o preço do cigarro dá sinais de ter sido um “tiro que saiu pela culatra”   


Por Fabiula Wurmeister, da sucursal em Foz do Iguaçu  


Sete meses depois de adotada uma nova sobrecarga tributária sobre o cigarro, os reflexos indicam que a estratégia para reduzir o consumo do tabaco no país pode ter saído pela culatra. A venda do produto nacional teve queda média de 6,5% no período. Porém, o que poderia ser um indicativo positivo perde força quando observado que o acréscimo nas apreensões do produto contrabandeado do Paraguai na região de fronteira quase triplicou em relação às perdas da indústria. De janeiro a outubro, foram 18% a mais que o registrado nos mesmos dez meses de 2008.

Apesar de defenderem que o crescimento nas apreensões é resultado das várias operações de repressão desencadeadas em todo o país, as autoridades fiscais e policiais não descartam que as quadrilhas estejam vislumbrando no contrabando de cigarro um mercado cada vez mais lucrativo e com grande potencial a ser explorado. “Temos consciência que as ações repressivas não vão acabar com esse tipo de crime. Mas estamos trabalhando para diminuí-lo a patamares próximos de zero”, garante o delegado-adjunto da Receita Federal em Foz do Iguaçu, Rafael Dolzan. 


Produto ilegal não preocupa fumantes 

Contrariando a ideia de que a conscientização teria papel preponderante na mudança de hábito, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) no início do ano concluiu, em linhas gerais, que a maioria dos entrevistados não deixaria de fumar a sua marca habitual contrabandeada se soubesse que aquele cigarro não paga imposto e ainda financia o crime organizado. 

De janeiro até o fim de outubro foram tirados de circulação na faixa de fronteira de Foz do Iguaçu a Guaíra mais de US$ 8,5 milhões, contra US$ 7 milhões no mesmo período do ano passado. Coincidência ou não, os registros tiveram maior acréscimo a partir de março, logo após o anúncio do aumento do IPI. Na época, o fenômeno já era esperado pelas autoridades e especialistas. “Isso é normal quando existem outras alternativas, mesmo que ilegais”, lembra o representante da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) no Paraná, Luciano Stremel.

A invasão do produto paraguaio pode ser constatada também no aumento dos índices estimados de cigarros contrabandeados em circulação no comércio nacional. “No início do ano, tínhamos 23 cigarros contrabandeados para cada 100 consumidos no país. Hoje, já são 26”, aponta Stremel. “Isso é mais uma prova de que o preço não é um desestimulante ao consumo. Pelo contrário, ele acaba sendo o estimulante para a procura de produtos de pior qualidade, o que acaba abrindo espaço para a atuação de falsificadores e contrabandistas.”

Oferta e procura

Detentora de 61,7% do mercado nacional de cigarros, a Souza Cruz anunciou ter sofrido redução de 6,9% nas vendas internas nos nove primeiros meses do ano. O relatório trimestral feito para os sócios da empresa aponta como principal causa os aumentos de 23,5% (IPI) e de 72,5% (PIS/Cofins) sobre o cigarro desde maio e julho, respectivamente. “Estimativas indicam um crescimento significativo do volume de cigarros contrabandeados para o Brasil em função de maior atratividade após o aumento da carga tributária no país”, completa o comunicado.

Na guerra contra o tabagismo, a cultura e a disponibilidade do produto têm como fortes aliados a infraestrutura de fábricas paraguaias capazes de absorver toda a demanda brasileira e a dificuldade da polícia para vigiar a longa extensão da fronteira com os maiores fornecedores. “Nessa luta, educação e repressão precisam necessariamente andar juntas. Não tem como di­­zer que uma ação é mais importante que a outra. Prin­cipalmente quando é claro que o crime organizado se fortalece a cada dia motivado por essas brechas”, reforça o representante da ABCF. 


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