Publicado em: 10/12/2009
Segundo levantamento inédito do IBGE, famílias brasileiras gastaram R$
44,8 bilhões com medicamentos em 2007. Para especialistas, gasto é alto e
aponta para consumo excessivo de medicamento; somando compras públicas, total chega
a 1,9% do PIB
O brasileiro gasta muito com
remédio, sinal de consumo excessivo. A despesa das famílias brasileiras com
medicamentos foi de R$ 44,8 bilhões em 2007. O número equivale a mais de um
terço dos desembolsos totais das famílias com saúde, de R$ 128,8 bilhões
naquele ano, e está próximo dos R$ 46,1 bilhões gastos com consultas médicas,
exames diagnósticos e outros serviços não hospitalares, que canalizaram a maior
parte dos recursos.
Os dados constam da "Conta-satélite
de Saúde", divulgada ontem, pela primeira vez, pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). O nome da pesquisa vem da análise de
números que normalmente circundam em torno do PIB (Produto Interno Bruto, soma
de riquezas produzidas pelo país), sem que sejam destacados. O documento
contempla os anos de 2005 a 2007 e mostra que o peso dos gastos com
medicamentos nas despesas com saúde das famílias brasileiras está em torno de
35%.
A pesquisadora Maria Angélica
Borges de Santos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), avalia que o alto peso
dos medicamentos nos gastos com saúde das famílias indica que o brasileiro está
consumindo muito remédio. Considerando-se também as compras públicas, o total
gasto com esses produtos em 2007 correspondeu a 1,9% do PIB. Segundo a
pesquisadora, nos países desenvolvidos essa proporção não costuma passar de
1,4%. O número leva em conta apenas os medicamentos comprados para uso em casa
-os consumidos em hospitais e as vacinas foram contabilizados como gastos com
serviços de saúde.
A coordenadora-geral de programas
e projetos em economia da saúde do Ministério da Saúde, Fabíola Vieira, atribui
a diferença entre os gastos das famílias e os dos governos a dois fatores. De
um lado, pesa o "subfinanciamento" do setor público, que gasta mais
em serviços do que em remédio; de outro, o "uso irracional" de
medicamentos comprados em farmácias privadas.
Em 2007, as famílias gastaram
quase dez vezes mais com remédios do que o governo. A diferença foi a principal
responsável pelo desequilíbrio no financiamento do setor -a administração
pública gastou com compras R$ 4,7 bilhões em remédios para distribuição
gratuita de sua despesa total em saúde, de R$ 93,4 bilhões.
"Dentro do gasto do governo,
os medicamentos são dispensados mediante uma prescrição médica. No consumo das
famílias, há muitos medicamentos consumidos sem apresentação de prescrição
médica, principalmente os remédios de venda livre, que a população consome de
forma excessiva", diz Vieira.
Atualmente, a política de
distribuição gratuita de remédios do Ministério da Saúde contempla
principalmente pacientes de doenças que exigem tratamento continuado, como
Aids, diabetes, hipertensão e tuberculose. De acordo com o secretário-executivo
substituto do Ministério da Saúde, Luiz Fernando Beskow, o programa tem sido
ampliado e recebeu aporte de R$ 5,4 bilhões em 2009, o dobro do ano anterior. O
governo federal responde pela maior parte dos gastos públicos com medicamentos.
Em 2005, o montante gasto com medicamentos superou aquele destinado aos serviços não hospitalares, que, nos dois anos seguintes, assumiram a liderança no orçamento. Segundo a pesquisadora Maria Angélica Borges de Santos, as despesas não hospitalares crescem devido à migração de muitos procedimentos antes realizados em hospitais para centros de exames e diagnósticos cada vez mais modernos e caros.