Panfleto sobre "uso seguro" de heroína gera polêmica em NY

Publicado em:  07/01/2010

Se você vai usar drogas, faça-o direito, porque até mesmo os viciados em droga merecem ter suas vidas protegidas.

Foi essa a mensagem que funcionários do departamento municipal de saúde de Nova York tentaram transmitir em um panfleto que contém "dicas para um uso mais seguro" de heroína que a cidade bancou e distribuiu, e vem causando irritação entre as autoridades municipais, entre as quais a promotora especial para o combate aos narcóticos da cidade, nos últimos dias.

Representantes do serviço municipal de saúde dizem que o panfleto de 17 páginas, em circulação desde junho de 2007, reconhece que, em termos realistas, é impossível impedir que os viciados em drogas intravenosas as utilizem. O texto oferece "10 dicas para um uso mais seguro" de heroína, entre as quais injetar drogas em companhia de outro usuário, caso algo saia errado, e "injetar corretamente para evitar infecções e colapso de veias".

Mas os críticos do documento, entre os quais o vereador Peter Vallone Jr, e a promotora Bridget Brennan, que comanda o combate aos narcóticos na cidade, dizem que o texto pode servir como guia para aqueles que nunca usaram drogas, com informações como "faça um pouco de aquecimento (por exemplo, saltando) para que suas veias apareçam", e faz com que o uso de drogas pareça corriqueiro. Na opinião deles, essa é uma política equivocada, e apelaram que o documento seja recolhido.

Vallone, que preside o Comitê de Segurança Pública do Legislativo municipal, declarou na quarta-feira que o panfleto, cuja existência foi reportada esta semana pelo jornal New York Post, não oferecia informações muito úteis aos usuários experientes e poderia encorajar novatos a começar a usar heroína, ao demonstrar a eles como proceder.

"Na verdade, o dinheiro dos contribuintes está sendo gasto a fim de produzir um guia para usuário iniciantes de heroína", afirmou o vereador. A cidade gastou cerca de US$ 32 mil para imprimir e distribuir 70 mil cópias do panfleto, disseram funcionários do serviço municipal de saúde.

Brennan declarou na terça-feira que via propósito público legítimo em outros esforços dirigidos a usuários de drogas intravenosas, como os programas de troca de seringas para prevenir a difusão de HIV e outras infecções entre os viciados devido ao uso de agulhas contaminadas. Mas disse que informar aos viciados sobre como lavar as mãos e outras informações semelhantes era tolice.

"Creio que o programa de troca de seringas, se for bem administrado e bem direcionado, bem como fiscalizado com sensatez, faz muito sentido, mas o panfleto não se enquadra na mesma categoria".

Ela disse que a brochura parecia sugerir que existe uma forma segura de injetar heroína. "Sempre que a pessoa usa drogas de forma intravenosa, está correndo risco de vida, não importa quantas vezes lave as mãos ou use álcool", disse Brennan. "Estamos falando de um veneno. E ninguém sabe que outras substâncias a droga contém. Quando li o panfleto, ele me pareceu um esforço para tratar como normal o uso de drogas".

Vallone diz que não acredita que a culpa caiba ao comissário municipal da saúde, Dr. Thomas Farley Jr., já que o panfleto foi distribuído bem antes de sua posse, em junho passado, mas anunciou que planejava uma conversa com Farley, hoje, para pedir que o panfleto seja recolhido.

Vallone objeta a dicas de segurança como "coloque o algodão diretamente no recipiente de cozimento. Não toque nele". Para o vereador, "parece que eles estão tentando impedir que uma criança se machuque". Ele também mencionou a dica sobre saltos para aquecimento. "Isso é ajuda ao vício, e não conselho como prevenir uma doença", afirmou.

Os funcionários do departamento de saúde negam veementemente que o panfleto possa ser interpretado como um guia para o uso da heroína. "De forma alguma", disse o médico Adam Karpati, comissário executivo assistente na divisão de saúde mental do departamento, na terça-feira.

Dicas como a que ensina a mostrar as veias, disse, têm por objetivo proteger os usuários contra injeções repetidas, que podem resultar em infecções sanguíneas e transmitidas pela pele.

Os funcionários da saúde municipal dizem que o panfleto tinha por objetivo tornar "mais seguro" e não "completamente seguro", o uso de drogas. Karpati aponta que a primeira página do texto insta os leitores a ¿pedir ajuda e conseguir assistência para deixar de usar drogas", e que o panfleto oferece números de linhas telefônicas de assistência 24 horas.

Ele disse que a cidade estava tentando prevenir overdoses e riscos e saúde como o HIV e hepatite, que podem ser transmitidos por agulhas contaminadas.

Mais de 600 moradores de Nova York morrem por overdose acidental de drogas a cada ano, e um terço dos portadores de HIV dos Estados Unidos foram infectados por uso intravenoso de drogas, de acordo com o serviço de saúde.

"Nossa mensagem primária, como em todas as nossas demais iniciativas, é ajudar as pessoas a deixar de usar drogas e oferecer informações sobre como abandonar o vício", disse Karpati. Mas ele afirmou que o serviço de saúde admitia que deixar o vício não era uma expectativa realista para todos os usuários de drogas.




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