Brasileiro teme ser esquecido em corredor da morte na Ásia

Publicado em:  18/01/2010

Marco Archer Cardoso Moreira diz que só Lula pode evitar sua execução na Indonésia

Do corredor da morte em uma prisão da Indonésia, o instrutor de voo livre Marco Archer Cardoso Moreira faz um apelo: não quer ser esquecido.
Marco, 48, foi condenado à morte em 2004 por tentar entrar no país asiático com 13,4 kg de cocaína em sua asa delta.

"Estou praticamente abandonado", disse, em entrevista exclusiva à Folha. "Preciso voltar para a mídia de novo. Vou cair no esquecimento aqui." O brasileiro quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interceda novamente junto ao colega indonésio Susilo Bambang Yudhoyono para evitar a execução da pena capital. Lula fez dois pedidos de clemência a Yudhoyono: o primeiro foi negado em 2006; o segundo ainda não teve resposta -é a sua última possibilidade de recurso.
"Sempre peço à minha mãe: "Fala para a d. Marisa que o Lula tem como dar um jeito nessa história". O Lula é poderoso, né? É da classe trabalhadora."

A esperança de Marco é ao menos converter sua pena em prisão perpétua. "Cometi meu erro, estou pagando, acho que mereço uma nova chance", diz ele, que afirma ter feito a "besteira" para pagar uma dívida com um hospital.

Archer está preso em Nusakambangan, no sudoeste do país, a 400 km da capital Jacarta. Lá, divide uma cela com outras cinco pessoas. Carolina Archer, 70, mãe de Marco, afirma estar aflita. "Já se passaram seis anos e vejo que o governo brasileiro não fez nada por ele. Quero que ele pague, mas não com a vida."
A embaixada brasileira em Jacarta diz estar tentando sanar o caso pela via diplomática.
Carolina teme que a gestão Lula termine e não haja solução. "O Marco não tem mulher, família, ninguém. Somos só eu e meu filho. E estou doente."

Por conta de um câncer no pulmão, Carolina não visita o filho desde o final de 2008. Agora, planeja fazê-lo em maio.
Com ele também está o surfista Rodrigo Gularte, 37, condenado à morte em 2004 por tentar entrar no país com 6 kg de cocaína. O processo dele está em fase de apelação -se o recurso for negado, é possível fazer dois pedidos de clemência. A família do surfista não o autorizou a falar com a Folha. A Indonésia tem uma das mais severas leis antidrogas do mundo. Desde 2000, o narcotráfico no país é punido com a pena de morte.
Segundo a Imparsial, ONG local de direitos humanos, 21 condenados foram executados na Indonésia de 1998 a 2009, cinco por tráfico de drogas. Só em 2008, dez foram mortos -dois por tráfico. A ONG pede o fim da pena capital.

O presidente Yudhoyono foi reeleito em 2009, porém, com posição favorável à punição. A execução é feita por 12 soldados com rifles; só duas armas são carregadas. Cada soldado atira uma vez, no peito do condenado. Se ele sobreviver, leva um tiro na cabeça, à queima-roupa.

SURFISTA DO PARANÁ TAMBÉM ESTÁ PRESO

A prisão de Pasir Putih abriga ainda o surfista paranaense Rodrigo Gularte, 37, também condenado à morte. Rodrigo foi preso em 31 de julho de 2004, um mês e meio após Marco Archer ser condenado à morte. Ele levava 6 kg de cocaína em pranchas de surfe ao ser detido, no aeroporto de Jacarta. Em fevereiro de 2005, foi condenado. O processo de Rodrigo está em fase de apelação. Caso o recurso seja negado pela Justiça indonésia, o governo brasileiro pode fazer até dois pedidos de clemência.


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