Publicado em: 06/04/2010
SÃO PAULO - Reportagem desta Folha, de Ricardo Westin, informa que os hospitais privados de São Paulo vivem um frenesi de construções. A meta é quase dobrar o número de leitos de internação até 2012, saltando dos atuais 3.000 para cerca de 5.300. Trata-se de saber se tal expansão evitará os constrangimentos e humilhações, presentes e futuros, impostos a cidadãos carentes de socorro.
Na medida em que o Estado brasileiro lavou as mãos e privatizou a tarefa de cuidar da saúde da população, ter um plano médico virou uma questão de sobrevivência, no sentido literal. O mercado aproveitou a oportunidade e os convênios proliferaram, a ponto de serem comercializados em faróis. As opções também se diversificaram. Pagando um pouquinho a mais, nos diz o vendedor, o associado pode usufruir de instituições mais modernas e melhor aparelhadas. Isso no papel.
Quem frequenta hospitais certamente já presenciou casos (qu ando não o seu próprio) de pacientes que, precisando de atendimento, tentam fazer valer o contrato, mas não conseguem. Dependendo do dia da semana, encontrar um leito disponível passa a ser uma loteria. É comum observar familiares aflitos nos balcões de instituições ditas de primeira linha à espera de vagas em hospitais inferiores, porque aquele em que o paciente tentou se internar está lotado.
Claro, o doente sempre tem a opção de permanecer no ambulatório "de primeira linha", ouve-se de atendentes preocupados em fazer a fila andar. Se quiser, ficará lá, empilhado dentro de uma baia até que apareça um quarto, daqui a um dia, dois dias ou uma semana.
Nesse overbooking hospitalar, é como comprar passagem de classe executiva e acabar espremido na econômica. Com uma diferença: se você tiver sorte e um pouco de paciência, a companhia aérea pode te reembolsar. Já no caso dos convênios, o dinheiro pago a mais por um plano superior escorre pelo ra lo, e todos sabem nos bolsos de quem ele vai parar.