Publicado em: 27/04/2010
Fotos: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

O aumento do número de apreensões de armas e munições no Paraná mostra que o estado está na rota do mercado negro
TRÁFICO DE ARMAS
O Paraná é a principal rota do tráfico de armas do país. Arsenal entra no Brasil pela Ponte da Amizade, rio e Lago de Itaipu
As brechas existentes na fiscalização dos 170 quilômetros do Lago de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, fazem do Paraná a principal rota do tráfico de armas e munições de todo o Brasil. Por ser uma porta de entrada de pistolas, cartuchos e fuzis, o estado contabiliza apreensões expressivas. Somente no ano passado, a Polícia Federal (PF) retirou de circulação 19.543 munições e 169 armas dos mais diversos calibres em todo o Paraná, o maior índice do país. Neste ano, a cena repete-se: no primeiro trimestre, a PF interceptou 8.846 munições, quase metade do total retido em 2009.
Segundo a PF, 95% das armas de grosso calibre usadas por organizações criminosas brasileiras entram no Brasil pelas fronteiras. Outros 5% são obtidos por meio de assaltos a quartéis e empresas de segurança, comuns no Rio de Janeiro. "Quando a gente aperta o cerco nas fronteiras, as quadrilhas procuraram aproveitar uma fragilidade nos quartéis e roubar armas", afirma o delegado da Divisão de Combate ao Tráfico Ilícito de Armas da PF (Darmi), Reniton Serra.
Centenas de portos clandestinos situados ao longo do Lago de Itaipu e a facilidade que o crime organizado encontra para fazer a travessia de barcos na fronteira são alguns dos motivos que levam o Paraná a ser um epicentro bélico. "Nessa região existem pequenas embarcações e um comércio de mercadorias que transporta o que quiser. Pelos rios é mais fácil, eles encostam o barco em qualquer lugar. Colocam fuzis desmontados em algumas caixas dizendo que é cigarro contrabandeado", diz. Segundo o delegado, geralmente as armas são desmontadas e transportadas junto a outras mercadorias, incluindo eletrônicos, informática e cigarros e até drogas. Também é comum os policiais apreenderem os artefatos bélicos em fundo falso de veículos. Por isso o trabalho de inteligência é feito em conjunto com a divisão de drogas e contrabando.
A maior parte das armas que cruzam a fronteira paranaense na mão de contrabandistas é de pequeno calibre, ou seja, pistolas e revólveres. No entanto, no histórico da região há registros de apreensões de fuzis, submetralhadoras de uso restrito das Forças Armadas e munições com potencial para derrubar helicópteros. No Brasil, de acordo com Serra, a PF apreende armas das mais diversas origens e tipos, inclusive do Exército boliviano.

Do lado do Paraguai, venda de armas acontece em lojas de fachada
Em uma só apreensão, em 2008, foi retido um arsenal de 26 armas escondidas no painel de um veículo. Entre o material estavam pistolas das marcas Jericho (Israel), Glock (Áustria), Ruger (EUA), Smith/Weson (EUA), Sig Sauer (Suíça) e Bersa (Argentina) com mira a laser, além de munição ponto 40. O arsenal foi avaliado em cerca de US$ 30 mil, aproximadamente R$ 52 mil.
Depois de transportadas pelo rio e pela Ponte da Amizade, entre Brasil e Paraguai, as armas e munições com destino a morros cariocas e favelas paulistas são carregadas em automóveis ou caminhões que passam por estradas vicinais paranaenses.
O chefe do núcleo de operações da PF em Foz do Iguaçu, Cléo Mazzotti, diz que a intensificação das operações nos últimos anos foi a responsável pela liderança do Paraná no ranking de apreensões, apesar da movimentação existente na fronteira. "Há mais de mil quilômetros de margem no lago difícil de fiscalizar e na Ponte da Amizade passam cerca de 30 mil a 40 mil pessoas (diariamente)" . Segundo ele, as ações foram reforçadas na fronteira com a Operação Sentinela, desencadeada em conjunto com outros órgãos de segurança.
Estatuto do Desarmamento
A repressão maior à entrada de armas clandestinas e a vigência do Estatuto do Desarmamento – que estabelece normas para o registro, posse e comercialização de armas de fogo – repercutiu no mercado negro. Segundo Serra, o preço da arma triplicou. Uma pistola antes adquirida por menos de R$ 1 mil hoje vale até R$ 4 mil, diz. Hoje existe até mesmo um mercado paralelo de locação de armas utilizado por assaltantes de bancos, diz o delegado.