Para juiz, número de pais usuários de droga preocupa

Publicado em:  23/05/2010

ENTREVISTA

Para o juiz da Vara da Infância e Juventude de Araraquara Silvio Moura Sales o crescimento de pais usuários de drogas é preocupante. Veja os principais trechos de sua entrevista.

 

Folha - Tem crescido o número de ocorrências de pais usuários de drogas?

Silvio Moura Sales - Não trabalhamos com dados estatísticos, mas a experiência revela que tem crescido de forma preocupante.

 

Como a Justiça encara isso?

O trabalho é o mesmo em qualquer situação em que a criança está em risco. Ela é encaminhada a uma entidade de acolhimento institucional e, paralelamente, a gente trabalha com os pais para ver a possibilidade de recuperação da guarda.

 

Mas a recuperação de pais usuários não é mais lenta?

Isso é preocupante, porque além de não ser rápido, não sabemos se será consistente. O usuário pode ficar um bom tempo sem usar drogas e depois pode recair.

 

Qual o tempo médio para avaliar a família?

Não tem prazo médio. Cada caso é um caso.

 

Pode levar anos?

A legislação hoje fixa que a criança pode ficar por, no máximo, dois anos [em abrigo]. Aqui [em Araraquara] não fica mais de um ano. É um tempo suficiente para um bom acompanhamento.

 

Pais admitem erro e afirmam lutar para se afastar das drogas

"Erramos e temos paciência em aguardar a decisão da Justiça. Mas é muito difícil estar sem eles aqui, a dor da perda é grande", disse o pai dos bebês gêmeos, Paulo, 39.

Sem os filhos desde abril, ele admite que utilizou crack, mas disse que ele e a mulher não eram usuários.

"Usava às vezes, não era todo dia, mais nos finais de semana. Não sei bem o motivo de ter procurado isso para mim. Talvez tenha relação com a morte da minha mãe, foi uma época muito difícil, mas não sei exatamente."

Segundo Paulo, foram sete denúncias até a chegada do conselho e, após a perda, está disposto a se afastar da droga para recuperar os bebês. "Sei que, quando eles voltarem, tudo terá que ser diferente. Estou disposto até a mudar de casa."

Patrícia disse que usou a droga algumas vezes com o marido, mas nega ter consumido durante a gravidez.

"Na gestação não usei. Fiz todo o pré-natal e, no fim, ia a cada 15 dias ao médico porque havia in dícios de que iam nascer prematuros, o que aconteceu. Foi uma gravidez cheia de cuidados."

Mãe pela primeira vez, ela estava amamentando e disse que, passado um mês longe dos filhos, ainda tem leite e o desejo de amamentar.

"Tenho muito leite e, durante dias, senti dores. Cheguei a ter febre. No abrigo disseram que minha filha teve dificuldade em pegar a mamadeira. É doloroso."

Segundo eles, vão semanalmente ver os filhos e esperam novidades do processo.

"Tenho ido sempre ao Conselho Tutelar para saber do andamento do processo. A gente sente muito a falta e só aguentamos porque temos tido apoio da igreja e também dos conselheiros, que nos orientam sobre o que devemos fazer", conta Patrícia.

 


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