Vídeos do YouTube viram estudo sobre alucinógeno

Publicado em:  26/05/2010

Cientistas mediram pela 1ª vez período de efeito da droga Salvia divinorum

 

Erva é legal na maior parte do mundo; por ser uma droga nova, ainda não existe informação sobre potenciais riscos

 

A mania que muitos usuários da droga alucinógena Salvia divinorum têm de publicar vídeos dos efeitos da erva no site YouTube rendeu um improvável dividendo: um estudo científico.

Com base em filmagens de jovens que se divertem vendo seus colegas "viajarem" após uma ou duas tragadas da fumaça da erva, cientistas nos EUA conseguiram pela primeira vez saber com alguma precisão qual o período de efeito da droga. Imagens de gente rindo descontroladamente, rolando pelo chão e estranhando o próprio corpo forneceram os dados.

Segundo o trabalho publicado na revista "Drug and Alcohol Addiction", a Salvia divinorum (não confundir com o tempero sálvia) fa z efeito em até 30 segundos e mantém os usuários num estado de consciência bastante alterado por até oito minutos.

A descoberta pode não parecer grande novidade para os usuários da droga, mas deu trabalho para os cientistas, já que o uso da sálvia é globalizado, mas ainda não muito disseminado.

Fazer um estudo clínico em que a droga seja administrada deliberadamente, além disso, pode pode enfrentar uma série de barreiras éticas.

"Ainda não há estudos na literatura médica que tenham feito isso de maneira tão precisa quanto o nosso" disse à Folha o sanitarista James Lange, da Universidade Estadual de San Diego coordenador do trabalho.

"A maioria dos estudos publicados se baseou em relatos dos usuários e não em observações detalhadas."

 

MATERIAL E MÉTODOS

Para conseguir filmagens que não tivessem sido adulteradas e mostrassem a "viagem" da sálvia do início ao fim, o cientista se juntou a três coleg as para assistir a mais de 3.000 vídeos no YouTube. Só 34 passaram no controle de qualidade.

"Só poderíamos fazer isso com uma droga como a sálvia, por causa da restrição do YouTube a vídeos de 10 minutos", disse o pesquisador.

Lange reconhece que seu método não cobre alguns aspectos do uso da erva.

"Sabemos que o YouTube só mostra as pessoas que se sentiram à vontade. Vídeos com experiências aterrorizantes ou perturbadoras provavelmente não seriam divulgados, diz Lange.

Segundo o cientista, há pesquisadores correndo para preparar testes controlados da droga, estratégia que no futuro pode se tornar inviável, com muitos governos proibindo a droga. Restará, quem sabe, o YouTube.

 

Brasil ainda não controla a erva, diz Anvisa

As alucinações breves mas extremamente fortes da Salvia divinorum preocupam cientistas que a estudam, mas nenhum efeito visto até agora foi suficiente para provocar a proibição global da droga.

No Brasil, ainda não é controlada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Usuários que tentam trazê-la podem esbarrar, na verdade, em restrições do Ministério da Agricultura à importação de plantas exóticas.

Nos EUA, é liberada na maioria dos estados. Alguns cientistas preferem esperar conhecer melhor a droga antes de defender uma proibição. Hoje comum entre usuários que a plantam em vasos ou em jardins, a sálvia poderia acabar dando lucro ao tráfico. "Mas é preciso cautela, pois não conhecemos ainda os efeitos de longo prazo", diz Lange.

 


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