Publicado em: 31/05/2010
Araucária: riqueza do município, que tem maior PIB per capita do Paraná, não impediu o aumento da violência nos últimos anos
Segurança
Assaltos também preocupam população do município. Segundo a polícia, aumento no consumo de drogas é a causa dos crimes
O crescimento da violência preocupa os moradores de um dos municípios mais ricos do Paraná. Em apenas dois anos, o número de homicídios em Araucária, que tem o maior PIB per capita e a segunda arrecadação do estado, cresceu 130%, passando de 30 para 69. Assaltos e arrombamentos são constantes. Para tentar reverter esse quadro, as forças de segurança pública apostam na integração e em mais investimentos.
Segundo as autoridades da área de segurança no município, a maioria dos crimes está ligada ao tráfico ou ao consumo de drogas ilícitas. A presença de uma população flutuante, atraída pela geração de empregos temporários em empresas terceirizadas da Petrobras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), também é lembrada como possível causa do aumento da criminalidade, embora ainda não haja estudos que comprovem essa relação.
A Capela Velha é o bairro mais afetado pela violência, com o maior número de homicídios nos últimos três anos. Nesse período, a quantidade de assassinatos cresceu em progressão geométrica: foram 7 em 2007, 14 em 2008 e 28 no ano passado. O maior aumento, porém, foi registrado na Campina da Barra: 1.100%. Lá, os homicídios saltaram de 1 para 12 em apenas dois anos. Qualquer morador do bairro sabe de um vizinho ou conhecido que tenha sido vítima recente de assalto, arrombamento ou tentativa. "São três ou quatro assaltos a residências por dia", afirma o comerciante João Ferreira Lima, ele mesmo vítima de assalto à sua mercearia há cerca de um ano e meio.
Para o comerciante, o crescimento populacional motivado pela expectativa de emprego nas indústrias está mudando o perfil dos moradores. "Existe policiamento, mas não o suficiente para enfrentar essa falta de segurança. Não tem como os policiais estarem em tudo quanto é lugar."
Insegurança
Por volta das 3 horas da madrugada do dia 21, ladrões armados com uma barra de ferro tentaram arrombar o portão da casa e do salão da cabeleireira Lílian Regina do Prado. A tentativa foi frustrada porque o cachorro da família deu o alarme, acordando o marido de Lílian, que foi ver o que estava acontecendo. Os bandidos fugiram. "A situação aqui está horrível, não era assim", conta a cabeleireira. "Eu costumava trabalhar até as 22 horas, agora tenho de fechar o salão às 19 horas."
Lílian conta que a violência não tem lugar e hora para ocorrer. "Já nas primeiras horas da manhã as pessoas são assaltadas nos pátios de escolas, postos de saúde e pontos de ônibus", afirma. Ela revela que já teve de atender clientes acostumados a andarem armados, que se justificam dizendo estar sendo ameaçados de morte.
Na última quarta-feira, um homem armado assaltou o aviário do comerciante Vicente Trziak. "Ele chegou dizendo: 'Sou ex-presidiário e aidético (sic), me envolvi com drogas, me ameaçaram de morte, por dívida com traficantes, e quero R$ 100'", conta a vítima. "Respondi: 'Não tenho'. Ele sacou a arma e retrucou: 'Não estou brincando, quer levar um balaço?' Levou tudo que eu tinha no bolso." De acordo com Vicente, falta policiamento preventivo no bairro: a polícia só vem quando é chamada. "Liguei para a polícia, em 10 minutos estavam aqui e fizeram o boletim de ocorrência", diz.
Cliente de Vicente e morador do bairro há 15 anos, o soldador Darci Carneiro afirma que "não dá para facilitar", pois os furtos e roubos na região são constantes. "A gente não vê solução", lamenta. Confirmando o que dizem as autoridades locais, Darci diz que os crimes estão ligados ao consumo de drogas. Muitos assaltos ocorrem nas imediações das bocas de fumo.