Desconhecida e irreversível

Publicado em:  31/05/2010

Tabagismo

Doença pulmonar mata 37 milhões de pessoas no país a cada ano, mas 87,5% dos portadores não são diagnosticados. Cigarro é a principal causa

 

Tendo como principal causa o tabagismo, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) causa a morte de 37 milhões de brasileiros anualmente e pode levar até 17 anos para ser diagnosticada. Como uma doença progressiva e irreversível, manifesta-se geralmente após os 40 anos e tem como sintomas tosse, pigarro e falta de ar. Por dia, cerca de 100 pessoas morrem em decorrência da doença, o que a coloca como a quinta causa de morte no Brasil. São aproximadamente quatro mortes por hora, uma a cada 14 minutos. A previsão é de que em 2020, ela passe a ser a terceira principal causa de morte no mundo, ficando atrás apenas de enfarte e acidente vascular cerebral (AVC).

 

Apesar de bastante comum, a DPOC é pouco conhecida até mesmo entre seus portadores. Estima-se que apenas 12,5% dos pacientes estejam diagnosticados. Um estudo feito com 229 pacientes em quatro capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre) revelou que 70% deles nunca tinham ouvido falar da doença até serem diagnosticados. A pesquisa, apoiada pelas farmacêuticas Pfizer e Boehringer Ingelheim, mostrou ainda que 99% dos doentes foram fumantes por cerca de 37 anos, em média. O que comprova o fato de que os sintomas mais graves demoram décadas para se manifestar, até mesmo em quem deixou de fumar há vários anos. "Muitas vezes pacientes que fumaram dos 20 aos 40 anos descobrem a doença aos 60. No intervalo entre 1990 e 2001, a incidência da doença aumentou 371%, muito mais do que o diabete, que teve um crescimento de 88% ou o AVC, que cresceu 14%. Isso porque quem fumava nas décadas de 60 ou 70 está doente agora", diz o pneumologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), José Roberto Jardim.

A principal queixa de quem sofre de DPOC é a dificuldade para respirar, principalmente ao fazer algum esforço ou exercício físico, já que a doença combina manifestações de bronquite crônica e enfisema pulmonar. Por ser progressiva, muitas vezes os primeiros sintomas são ignorados e o paciente acaba sendo diagnosticado apenas quando já está com a função pulmonar bastante comprometida. Embora possa ser identificada por meio de sinais clínicos, o exame que mede a função pulmonar, considerado padrão para o diagnóstico, é a chamada espirometria. O teste é feito com um aparelho específico no qual o paciente sopra e tem a capacidade de expelir o ar dos pulmões avaliada.

 

Embora não tenha cura, a doença é tratável e, mais do que isso, é possível ser prevenida. Evitar o tabagismo, mesmo passivo, e não permanecer em ambientes poluídos ou com fumaça de lenha, carvão, gases e outros combustíveis são atitudes que ajudam a prevenir a doença.

 

Tratando-se de uma doença incapacitante, a DPOC representa um grande impacto econômico. Além de ocasionar faltas ao trabalho, a doença é uma causa importante de antecipação da aposentadoria. Sem falar nos custos aos cofres públicos. Em 2009, segundo o Datasus, foram realizadas 124.800 internações em decorrência da doença no sistema público de saúde, o que representa um gasto de aproximadamente R$ 86 milhões.

Campanha para mulher

Neste ano, o tema escolhido pela Organização Mundial da Saúde para o Dia Mundial sem Tabaco, celebrado hoje, chama a atenção para as mulheres e o cigarro. Em­­bora o número de mulheres fu­­mantes seja menor do que o de homens, o tabagismo entre elas vem aumentando. Estima-se que o Brasil tenha 17,1 milhões de mulheres fumantes.

 

Uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cardio­logia em escolas públicas de São Paulo mostrou que as meninas estão fumando mais que os garotos. O estudo feito com 2.829 estudantes dos ensinos fundamental e médio constatou que quase 10% dos alunos fumam, sendo 61% meninas e 39% meninos. Entre as garotas, 11% fumam há menos de um ano; 59% entre 1 e 3 anos; 28% entre 4 e 6 anos; e 2% mais do que 6 anos.

 

Para o pneumologista da divisão de tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Ricardo Meirelles, é preciso uma abordagem diferente ao alertar meninas sobre os malefícios do fumo. "Se você falar para uma adolescente que fumando ela pode enfartar daqui a 30 anos, ela não vai se importar porque isso parece muito distante da realidade dela. É preciso que ela veja o mal que o cigarro está fazendo para ela desde já."

 

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*A jornalista viajou a São Paulo a convite dos laboratórios Pfizer e Boehringer Ingelheim.


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