Publicado em: 12/07/2010
Hoje escolhi dois artigos para tratar aqui no Blog. Um do canalRh onde o especialista canadense Robert Hare explica que as técnicas tradicionais de Rh não detectam a psicopatia na hora da seleção de um candidato. E outro da Revista Isto É que retrata como identificar um psicopata.
Neste momento, o Brasil encontra-se estarrecido com as revelações do caso Bruno. Alguns especialistas contam que pela frieza do jogador ele pode até ser encaixado como psicopata.
Como um profissional excelente e com uma carreira bem sucedida pode mudar toda a trajetória de sua vida de uma maneira tão trágica? Ele, provavelmente, ainda teria muito sucesso em outros times fora do Brasil pela competência que apresentava dentro de campo. Infelizmente, a vida pessoal está muito atrelada a vida profissional. Se a pessoa não sabe se comportar fora do local de trabalho e apresenta atitudes que comprometem sua reputação isso certamente afetará sua carreira e o fim, muitas vezes, é este que estamos acompanhando em todos os noticiários. Joga tudo por água abaixo e encerra da pior forma um caminho de sucesso.
Leia com atenção e descubra se sua empresa tem ou não algum psicopata. Se tiver, tome as devidas providências. Previna-se!
Psicopatas batem cartão
Como leões, que procuram os locais onde há água porque sabem que ali existem animais vulneráveis saciando sua sede, os psicopatas se inserem no meio empresarial. Caminhando contra o vento, se escondendo por trás de uma verve de carisma e comunicatividade, eles encontram na savana corporativa um ambiente ideal para suas investidas. Cabe a profissionais e empresas ficarem alertas e se prepararem devidamente para não se tornarem as próximas presas desavisadas. Para ajudar nessa sentinela, conversamos com o psicólogo canadense Robert Hare, responsável por boa parte do que se entende atualmente sobre a psicopatia humana nas empresas e criador de uma escala hoje utilizada em todo o mundo para medir diferentes níveis de psicopatia. Coautor do livro Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work (Cobras em Ternos: quando psicopatas vão ao trabalho), Hare esclareceu ao CanalRh algumas questões que envolvem esses predadores sociais e o ambiente corporativo. Confira os principais pontos citados pelo especialista.
Como identificar um psicopata na empresa?
É como um médico identifica uma gripe. Existem procedimentos e instrumentos próprios. Nós desenvolvemos um método para identificar pessoas com o potencial para causar problemas numa organização. O problema é que muitas empresas não utilizam instrumentos para isso, preferindo os métodos tradicionais de entrevista.
O que fazer quando se detecta um trabalhando na companhia?
Não posso dar um conselho. A empresa deve decidir de acordo com as implicações de sua decisão. A pessoa pode, por exemplo, ameaçar processar ou intimidar de outras maneiras. Talvez uma simples recolocação do profissional a uma posição diferente possa funcionar. Não há um conselho geral que eu possa dar. As companhias devem decidir de acordo com suas características.
Técnicas tradicionais de Rh favorecem sua existência?
As empresas não tomam muitas providências. Utilizam as técnicas tradicionais de recursos humanos, com testes e entrevistas. Mas esses não são métodos desenhados para identificação de indivíduos psicopáticos. Eles têm facilidade em convencer seus entrevistadores de que são ótimos candidatos. E muitas instituições nem ao menos conferem os currículos com cuidado. O candidato tem boa aparência, expressa-se e coloca-se muito bem, e o RH, às vezes, não se preocupa em checar as referências, para descobrir o que a pessoa fez antes e por que ela saiu de seu último emprego.
E o que deveriam fazer?
Não existem sinais específicos para se procurar; o que você tem de fazer é conseguir o máximo de informações possível sobre o candidato. E se o cargo for muito importante, envolvendo poder e controle financeiro, é preciso ter certeza absoluta de que escolheu a pessoa certa. Antes de comprar um carro, você pesquisa. Pergunta a outras pessoas sobre o automóvel, busca, enfim, dados e avaliações na internet... Por que então não fazer o mesmo quando se está contratando?
Psicopatas versus fraudes
Eles podem estar envolvidos em fraudes, furtos, podem também criar um ambiente hostil entre funcionários. Além de práticas profissionais, decisões, que podem prejudicar a empresa. É fundamental lembrar que são indivíduos que estão preocupados somente com eles mesmos. Logo, veem-se como a pessoa mais importante dentro da companhia; os outros são secundários.
Há algo a aprender com eles...
Não sabemos ao certo se têm liderança. Eles de fato parecem ser bons líderes, porque a organização ou talvez a situação da economia em si lhes seja a ideal, uma vez que tomam decisões rapidamente, muitas vezes de maneira nada ética, até ilegal, mas que aparentemente funcionam, num contexto específico. Então eles são vistos como bons líderes, mas isso depende muito da situação. O que acontece é que, ao tentar ajudar a si mesmo, o psicopata pode acabar ajudando a empresa. Por exemplo, quando o mercado de ações está subindo constantemente, até pessoas como Bernard Madoff (responsável por uma das maiores fraudes dos últimos tempos nos EUA) parecem boas. Qualquer um pode ganhar dinheiro e dar uma aparência de sucesso a uma empresa, se o mercado estiver bom e as condições corretas. O verdadeiro teste é o que acontece quando as condições mudam. Madoff acabou indo para a cadeia quando isso ocorreu.
O ambiente corporativo é atraente para eles
Porque é lá que reside toda a ação. Eu uso o exemplo de um leão nas planícies africanas: eles vão aos locais onde há água, pois sabem que lá estão os animais. Os psicopatas vão onde existe ação. E, financeiramente, a ação está em grandes corporações. Eles sentem uma atração natural por organizações, particularmente por aquelas em que as regras não são muito rígidas, que estão sempre em mudança, ou onde a regulamentação do governo é fraca.
Faltam dados científicos
Eu acho que sim. Não se sabe ao certo quantos psicopatas há hoje nas companhias, pois não há pesquisa suficiente. A maioria das empresas não tem interesse em fazer uma pesquisa sistemática, científica, sobre as pessoas em seus quadros. Acho que há diversas razões para isso, uma delas é que as instituições, na verdade, não querem saber dessas pessoas, pensando em eventuais riscos legais.
Há empresas com comportamento psicopata
Há um documentário, The Corporation, no qual sou entrevistado e concordo que há algumas empresas com comportamento muito similar ao de psicopatas. Não podemos descrever uma companhia como psicopata, mas podemos dizer que seu comportamento se encaixa na definição de psicopatia.
Então, existem empresas que se parecem muito com psicopatas?
Sim, certamente. São todas assim? Não. Algumas empresas são altruístas, preocupadas com o bem comum. Outras são predadoras gananciosas, egoístas e sem ética. Como psicopatas.
A sociedade não trata seus psicopatas
É muito difícil. Basta ver o que acontece com os escândalos financeiros recentes ao redor do mundo. Como tratamos? Nós não tratamos. Nos Estados Unidos, centenas de bilhões de dólares foram perdidos por incompetência, fraude e falta de preocupação. E nada acontece às pessoas que cometeram esses crimes, o governo simplesmente oferece mais dinheiro. Então, qualquer sugestão que eu der provavelmente não surtirá muito efeito.
Porque o problema é tão complexo e tão difuso, com tantas pessoas envolvidas nesse comportamento antiético, quase criminoso, que é muito difícil rastrear e resolver tudo. Não se trata simplesmente de descobrir que pessoas, na empresa, estão criando os problemas nem de que empresas estão criando problemas, pois a questão é muito mais ampla do que isso. Um banco, por exemplo, pode descobrir que um de seus diretores está desviando dinheiro. Mas, muitas vezes, esse banco não leva o caso ao tribunal, limitando-se a demitir, mudar de cargo ou escrever uma carta para reposicionar o profissional no mercado. Isso porque o banco não quer tornar o caso público. Não quer que as pessoas pensem que existem, em seu banco, indivíduos psicopatas. Então nem ao menos ficamos sabendo.
Faltam recursos para lidar com o problema
A sociedade não está bem-equipada para lidar com essas pessoas. Nossas leis, nossas tradições e nossos critérios não são efetivos para isso. O que se pode perceber com os enormes escândalos financeiros ao redor do mundo nos últimos anos. Quase ninguém foi preso, quase ninguém teve de reembolsar as centenas de bilhões de dólares que sumiram. Não temos os recursos legais para lidar com isso. E é tudo articulado por indivíduos. Ou seja, se você é um psicopata nos negócios a vida pode ser muito boa. Um passo à frente das leis Sempre haverá um ambiente bom para eles. Não importa o que fazemos. Podemos desenvolver novas leis que eles vão encontrar novas maneiras de conseguir o que querem. São como todos os criminosos. É muito difícil conter a atividade criminosa completamente, já que os criminosos sempre estão um passo à frente da lei.
Fonte: CanalRh em Revista Ano 2009 - Nº 72 - setembro / 2009
Psicopatas: Eles estão entre nós
Por Suzane Frutuoso
Revista Isto É - Ed. 2034
Os psicopatas não se importam de passar por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Mentem, manipulam e não sentem remorso, muito menos culpa. Ao mesmo tempo, são charmosos e simpáticos. Se algo ou alguém ameaça seus planos, tornam-se agressivos. São mestres em inverter o jogo, colocando-se no papel de vítimas. E estão conscientes de todos os seus atos (não entram em delírio, como em outras doenças mentais). "A maioria não mata. Mas é capaz, porém, de sugar emocional e até financeiramente quem cai na conversa deles", diz a psiquiatra Ana Beatriz autora de um livro "Mentes perigosas - o psicopata mora ao lado".
É a pessoa perfeita, que se mostra encantadora, boa de papo, rapidamente apaixonada - e nunca tem dinheiro para nada ou começa a se mostrar possessiva. Dá desculpas como "sou ciumento porque meu pai batia na minha mãe" ou pede empréstimos ao parceiro para fazer um novo investimento (e sumir com o dinheiro). É o amigo que diz nunca conseguir emprego, que a família não o compreende e que o chefe o persegue. Por isso, depende de conhecidos para ter onde viver - e passar o dia sem fazer nada útil, usufruindo o conforto que os outros possam lhe proporcionar. É o familiar que humilha, agride física e/ ou verbalmente. Diz ser pavio-curto, mas afirma que isso só acontece porque outro o provocou. Nunca admite um erro e faz as pessoas parecerem culpadas e irresponsáveis. É o profissional simpático e amigo de todos - que logo diz que precisa alertar um colega sobre quanto um terceiro funcionário é falso. Faz intrigas e usa informações íntimas que as pessoas lhes confidenciam para manipulá-las. Nesses exemplos, não há derramamento de sangue, mas prejuízos, financeiros e emocionais, que podem se arrastar por toda a vida de quem cai na teia de um psicopata.
Os casos que despertam a atenção costumam ser os hediondos, que provam o grau de frieza a que chega um psicopata. No Brasil, há uma série de casos chocantes, como os que ilustram esta reportagem. No mundo, uma das histórias que mais horrorizaram, recentemente, foi protagonizada pelo austríaco Josef Fritzl, acusado de manter a própria filha presa no porão de casa durante 24 anos e de ter sete filhos com ela. Na última semana, dois jornais da Áustria revelaram parte do conteúdo do relatório da avaliação psicológica pela qual Fritzl passou. "Percebi que tinha uma veia para a maldade. Para alguém nascido para ser estuprador, até que agüentei por muito tempo", diz, em um trecho do relatório. Mas a maioria dos psicopatas não comete crimes. Prestar atenção no comportamento de algumas pessoas quando notar informações incoerentes ou superficiais é uma forma de se preservar. Desconfiar daqueles que são interessantes e parecem ter uma vida ou currículo fantásticos também. "Eles buscam a vulnerabilidade das vítimas. Cheque a história de vida de indivíduos sedutores", diz a psiquiatra Hilda Morano, coordenadora do Departamento de Ética e Psiquiatria Legal da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Entre os indícios que levam a psiquiatra Ana Beatriz a apontar Lindemberg como um psicopata está a premeditação do crime. "Ele falou para os amigos 'vocês vão ouvir falar de mim esta semana'", lembra Ana Beatriz. Ela vê também traços de egocentrismo no rapaz quando ele repetia no cativeiro ser o "príncipe do gueto". Namorar uma menina tão jovem (quando começaram o relacionamento, Eloá tinha 12 anos e ele 19) demonstraria a necessidade de manipulação. O ciúme que sentia, segundo atestam colegas de escola de Eloá, era a tradução do sentimento de posse sobre alguém que lhe dava prazer e lhe conferia status - a jovem era considerada uma das mais bonitas da comunidade. As idas e vindas do namoro, sempre por decisão de Lindemberg, lhe davam a sensação de controle. Só que, na última vez, a moça não quis reatar a relação. "Era como se ela estivesse quebrando o brinquedo que ele inventou", afirma a psiquiatra, que também descarta o crime passional. "Não foi um ato cometido sob forte impacto, como pegá-la com outro, ter um revólver do lado e atirar movido pela emoção. Ele planejou a ação.
Há quem arrisque dizer que Lindemberg é dono de um comportamento infantilóide. Até por isso, ele namorava uma menina mais nova. Eloá fazia parte do sonho adolescente de realização - era a namorada bonita que lhe pertencia, assim como a moto. "Ele teve uma crise de auto-afirmação diante da moça. Até então, se considerava o bom", afirma o psiquiatra forense Guido Palomba, presidente da Academia de Medicina de São Paulo. Palomba diz que para provar a Eloá que continuava sendo o bom - e assim reconquistá-la - o jovem aproveitou a situação para se exibir, conversar com a polícia, estender na janela a camisa do time, dar entrevistas à tevê. "Ele não sairia de lá de cabeça baixa, como um fracassado na frente dela", questiona o psiquiatra.
Está comprovado que o distúrbio na mente dos psicopatas acontece no sistema límbico, parte do cérebro responsável pelas emoções. Nessas pessoas, a atividade cerebral na região funciona menos do que deveria e, por isso, as emoções não afloram. Para elas, não há diferença entre uma cena de um estupro ou de um pôr-do-sol, por exemplo, como comprovou um estudo de dois neurologistas brasileiros, Jorge Moll e Ricardo Oliveira. Voluntários foram submetidos a uma seqüência de cenas, que mesclavam guerras e crianças brincando, entre outras situações. Exames de ressonância magnética revelaram que, quando a imagem era agressiva, o sistema límbico entrava em ebulição. A atividade registrada era maior devido à repulsa. Para os psicopatas, não houve diferença. A atividade cerebral não se alterava, independentemente da cena. A racionalidade deles é tamanha que não são pegos em detectores de mentira. Sabem exatamente o que estão fazendo e mentem com naturalidade.
Não há tratamento para esses casos. Psicoterapia e psicanálise podem até ensiná-los a manipular com ainda mais maestria, uma vez que aprendem detalhes sobre o comportamento humano. Por outro lado, psicopatas são satisfeitos consigo mesmos por não apresentarem constrangimentos morais ou sofrimentos emocionais. Descobrir o que ocorre no cérebro deles, além do que já é sabido sobre o sistema límbico, é um passo considerável para abrir frentes de pesquisa que busquem tratamentos. A psiquiatria começa a considerar a possibilidade de estudos com a implantação de eletrodos no cérebro que emitam pequenas descargas elétricas para regular o funcionamento, como já acontece com pacientes de depressão e mal de Parkinson. Por enquanto, é apenas uma hipótese. Tratamento mesmo só para as vítimas, que geralmente apresentam problemas emocionais depois de serem enganadas e agredidas.
FRIEZA
O psicopata é frio, não sente emoção, é racional ao extremo. Como o ator Guilherme de Pádua, que, após matar a atriz Daniella Perez com golpes de punhal, em dezembro de 1992, foi ao velório prestar solidariedade à mãe, Gloria Perez, e ao marido da vítima, o ator Raul Gazolla. Durante o interrogatório, depois de se entregar, estava calmo e relatou o assassinato sem esboçar reação alguma.
CHARME E SIMPATIA
Os psicopatas são sedutores. Adulam e agradam à "vítima", mas mudam radicalmente de comportamento se contrariados. Como a jovem Kelly dos Santos, 19 anos, presa em agosto de 2007, em São Paulo, acusada de estelionato, furto e falsidade ideológica. Kelly se passava por rica e cativava com sua simpatia e desenvoltura para depois furtar jóias, dinheiro, cartões de crédito e talões de cheque. Quando não convencia, era arrogante, fazia escândalo e destratava as pessoas.
Psicopatas nascem psicopatas. É importante registrar, porém, que o mundo contemporâneo está repleto de gatilhos para a psicopatia entrar em ação, como a impunidade. "Quando eles sabem que as leis não funcionam, se sentem à vontade para agir como bem entendem", diz Hilda Morano. A internet também se tornou uma porta de acesso fácil e rápida para manipuladores conseguirem seus objetivos e sedutores conquistarem pessoas indefesas. "Para pedófilos, por exemplo, é um trunfo. Eles não precisam se expor se aproximando de uma criança na rua", diz a psiquiatra Ana Beatriz. A atual cultura do "ter" também contribui. "Ela é um estímulo para conseguir um objeto de desejo a qualquer preço", afirma o médico Vladimir Bernik, coordenador da equipe de psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Quando a convivência com um deles for inevitável - como no trabalho, por exemplo -, a solução é se preservar, sem dar detalhes pessoais. Pode parecer exagero. Em muitos casos, até é. Mas, como diz a psiquiatra Ana Beatriz, só assim menos vidas serão dilaceradas.
Colaborou Claudia Jordão
Edição: Jefferson Xavier | Fonte: CanalRh e Revista Isto É