Publicado em: 26/07/2010
Crianças e adolescentes da Região Sul do país apresentam melhores índices de saúde mental e desempenho escolar em comparação com outras regiões do Brasil. Enquanto que no Sul, em média, apenas 10,8% das crianças apresentam índices anormais de saúde mental, dados que podem ser comparado aos de países desenvolvidos, em outras regiões do país esse índice chega a 15%, média próxima a de países em desenvolvimento como Índia ou Rússia. Da mesma forma, as crianças e adolescentes da Região Sul têm os melhores índices de desempenho escolar do país: 34,9% delas apresentam desempenho acima da média e 24,4% abaixo, em comparação com 27,9% e 31,4% na Região Sudeste e 27,5% e 30,1% nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, respectivamente.
Os dados são de um estudo realizado pelo Instituto Glia, com a colaboração de pesquisadores da Universidade La Sapienza (Roma) e do Albert Einstein College of Medicine (EUA), com 9.149 estudantes do ensino médio e fundamental de 17 estados brasileiros. No Sul, participaram 2.696 crianças de 15 cidades, entre elas Curitiba. Os resultados foram reunidos em uma cartilha que será colocada à disposição de educadores e servirá de base para o desenvolvimento de políticas públicas.
De acordo com o neurologista da infância e coordenador do Projeto Atenção Brasil, no qual está inserida a pesquisa, Marco Antonio Arruda, os dados nacionais colocam o Brasil em uma posição intermediária em relação a outros países no que diz respeito à saúde mental das crianças e adolescentes. Segundo o levantamento, aproximadamente 13% das crianças brasileiras apresentam anormalidades mentais que podem ocasionar prejuízos no seu desenvolvimento (entre elas estresse, tristeza, nervosismo, angústia). Para se ter uma ideia, em países como Estados Unidos ou Grã-Bretanha esse índice é próximo de 8,5%. Na Noruega apenas 7% das crianças apresentam tal condição, enquanto que em países como Índia ou Rússia, essa porcentagem gira em torno de 15%.
No entanto, quando analisado por regiões, o Brasil apresenta índices bastante desiguais. Enquanto que no Sul 10,8% das crianças têm alguma alteração que as coloca em risco para doenças mentais, no Sudeste esse número é de 14,2% e no Norte de 15%. A mesma situação se repete quando analisado o desempenho escolar. Um estudante do Sul apresenta uma chance 1,4 vez maior de ter melhor desempenho escolar em comparação com crianças e adolescentes das demais regiões do país.“Sabemos que esses índices têm ligação direta com fatores socioeconômicos como o acesso à educação e os estímulos a que essa criança está exposta”, afirma o especialista. Segundo ele, a pesquisa demonstrou também uma relação direta de uma melhor saúde mental das crianças com o grau de escolaridade dos pais. “Pais com uma formação mais alta estão melhor preparados para promover condições favoráveis ao desenvolvimento dos filhos”, diz.
Segundo o especialista, crianças com alguma anormalidade mental estão menos preparadas para enfrentar as adversidades da vida. “Para evitar esses problemas é preciso investir no desenvolvimento das crianças desde a gestação, garantindo que essa mãe tenha uma gravidez saudável, sem uso de álcool ou drogas, e depois do nascimento trabalhar valores e comportamentos como compaixão, responsabilidade e consciência social com essas crianças, bem como ensiná-las a controlar seus impulsos e agir com resiliência”, afirma.
Cartilha
As pesquisas do Projeto Atenção Brasil deram origem a uma cartilha com recomendações para pais e professores sobre como educar evitando fatores de risco e promovendo condições de proteção para a saúde mental e bom desempenho escolar das crianças. Essa cartilha estará à disposição para ser baixada gratuitamente no site www.aprendercrianca.com.br a partir de agosto.
Pressões, cobranças e o contato precoce com os “problemas de adultos” são fatores que contribuem para que um número cada vez maior de crianças apresente sinais de estresse. Embora isso venha se tornando uma situação frequente, muitos pais não são capazes de reconhecer que algo está errado com os filhos.
Estudos feitos pela Academia Americana de Psiquiatria para avaliar os níveis de estresse, com 1.206 crianças de adolescentes de 8 a 17 anos, mostraram que, embora cerca de um terço delas acreditassem ter grandes preocupações na vida, apenas 3% dos pais consideravam que seus filhos sofressem de estresse. As pesquisas mostraram ainda que os fatores apontados pelas crianças como os causadores do estresse nem sempre são enxergados pelos pais da mesma maneira.
De acordo com a pesquisa, problemas comuns do universo infantil como os afazeres escolares, e questões mais complexas como o futuro acadêmico ou as finanças da família foram citadas como fontes de preocupação. Sem receber os devidos cuidados, essas crianças expostas a um estresse contínuo podem sofrer repercussões na saúde física e mental.
Dores de cabeça, dificuldade para dormir e problemas estomacais foram os sintomas mais citados como resposta às preocupações. De acordo com a psicóloga Regina Célia da Fonseca, do Hospital Pequeno Príncipe, é importante entender que o estresse afeta cada pessoa de uma forma diferente. “Os pais devem ficar atentos a qualquer mudança estranha no comportamento das crianças”, afirma. Segundo a psicóloga, alterações frequentes no apetite, no sono ou no humor podem indicar que algo está errado. “Se os pais são estressados e reagem mal às pressões do dia a dia, a criança vai aprender a se portar dessa maneira”.
A psicóloga Karin Bruckheimer explica que as crianças nem sempre têm maturidade emocional para lidar com determinadas situações. “Muitos pais acabam dividindo todas as suas preocupações com os filhos como se eles fossem adultos. Isso acaba deixando a criança preocupada e estressada”, diz.