Publicado em: 01/08/2010
Proibição do cigarro, que completa 12 meses no sábado que vem, é comemorada por maioria de donos de bares
Enquete com 60 pontos de diversão na capital mostra que público das baladas não caiu na maioria dos locais
Quem sair pela noite paulistana no sábado que vem não verá mesas vazias, garçons desempregados, muito menos fumantes em bate-bocas para permanecer dentro da balada de cigarro aceso.
Ao contrário do professado em 2009 por representantes de bares e restaurantes, que previam quebradeira no setor, com demissões e queda de público, a lei antifumo completará seu primeiro ano comemorada na maioria dos locais submetidos a ela.
Os fumantes ainda enfrentam dificuldade no entra e sai de casas noturnas, mas costumam respeitar as regras.
A Folha ouviu 60 estabelecimentos dos mais difere ntes perfis e regiões da cidade durante a semana passada. Mesmo sem ter valor estatístico, a enquete mostra uma quantidade muito superior de proprietários que aprovam a nova legislação.
Contrária à proibição quando a lei entrou em vigor, Veronica Goyzueta, dona do bar Tubaína, na região da rua Augusta, mudou de ideia e agora diz "adorar" o livramento da fumaça. "Nossa qualidade de vida aumentou e todos os funcionários aprovam, mesmo os fumantes."
Se por um lado Renata Vanzetto, chef do restaurante Marakuthai, diz achar o cigarro "um desrespeito à comida e ao cliente do lado", por outro dá a dica de colocar banquinhos e cinzeiros na calçada porque "os fumantes também são clientes e precisam ficar confortáveis".
"Se um dia acontecer de ela evaporar, continuarei a cumpri-la nos meus restaurante", afirma Renata. O restaurateur Sérgio Kalil, sócio do Ritz e do Spot, dois dos mais enfumaçados antes da lei, antecipou-se à proibição e foi u m dos que construíram soluções criativas para os fumantes.
Fez uma pérgula de vidro na área externa com bancos altos de madeira. "As mesas giram mais e muitos clientes reabrem a conta lá fora", diz.
Outra a proibir o cigarro antes da vigência da lei, Maria Rita Pikielny, dona da filial paulistana do PJ Clarke's, diz que o perfil do público mudou. "Perdemos um pouco em permanência dos fumantes no bar, mas ganhamos em famílias", afirma.
Há, no entanto, quem reclame de prejuízo, como Lílian Gonçalves, dona da Calçada da Fama, rede de bares na Santa Cecília, no centro.
"A noite mudou demais. Os grandes boêmios que passavam a noite inteira bebendo no bar desapareceram. Foi a lei que mais prejudicou a noite de São Paulo, bem mais do que a lei seca", diz.
"Mantenho a posição. Sou contra tratar os donos de bares como delinquentes e o fumante com discriminação", afirma Percival Maricato, diretor da Abrasel, uma das associações que foram à Justiça contra a lei antifumo. As ações de inconstitucionalidade ainda estão no Supremo Tribunal Federal, sem previsão de julgamento.
Cigarro do lado de fora ainda causa desconforto
Barulheira na rua irrita moradores do entorno
Um ano depois, a publicitária Gisele Kyrillos, não fumante, lista as vantagens: não chega em casa com os cabelos com cheiro de cigarro, não volta com a roupa defumada e, grávida de cinco meses, pode ir a bares e restaurantes sem se preocupar.
Um anos depois, o engenheiro Paulo Rabelo, fumante, lista as desvantagens: tem de pagar a conta quando sai para fumar, é visto com desconfiança, como potencial infrator, e tem o maço confiscado em algumas boates.
"Quando havia uma área de fumantes eu não ficava isolada do cigarro. Se tivesse engravidado antes da lei teria mais dificuldade de comer fora e sofrido muito para sair de casa", afirma Gisele.
"Sou tratado com discriminação. Tem lugares que tenho de deixar o cigarro na mão do segurança e pedir de voltar quando vou fumar, é constrangedor", diz Rabelo.
A lei antifumo também teve reflexos em quem não toma partido entre fumantes, não fumantes e donos de bares. Moradores vizinhos de casas noturnas reclamam do barulho nas calçadas na madrugada -que não existia-, da sujeira de bitucas na ruas e da cortina de fumaça na porta dos estabelecimentos.
"É um inferno, as pessoas perdem a noção e conversam alto a noite inteira na rua, há um ano durmo mal nos finais de semana", reclama a professora Ana Guimarães, vizinha de bares no Itaim.
Não demorou para que os fumódromos virassem pontos de paquera e de negócios -e não só para quem está ali fumando. Agora, quem se conhece na pista logo vai para a área de fumantes, onde pode conversar longe do som alto.
"Conheci meu atual namorado assim. Ele me paquerava ao mesmo tempo que tratava de negócios com um cliente", conta a estudante de marketing Maíra Ribeiro.
O Astronete, uma das casas noturnas em que mais se fumava, teve de lavar as cortinas de veludo para tirar o cheiro de cigarro impregnado no ambiente.