Caminhos abertos

Publicado em:  17/08/2010

  

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É pertinente esperar que os candidatos se manifestem,

 com ideias inovadoras, sobre serviços antitráfico

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Sem ir tão longe quanto José Serra em relação ao governo boliviano, cabe aproveitar a apreensão de meia tonelada de maconha trazida do Paraguai e reconhecer que é ininteligível a inaptidão dos tantos serviços antitráfico brasileiros (de todos os últimos governos) para conter a traficância pesada pelas fronteiras.

Tal como a carga apreendida ontem, há anos o tráfico passou a usar carretas e grandes caminhões, que não trafegam por campos e desvios improvisados, precisam das estradas fronteiriças reconhecidas. E as utilizam. Em paz.

As maiores e mais frequentes apreensões, quase sempre proporcionadas por informações dos agentes americanos, são feitas em estradas no Estado do Rio. Cargas de toneladas ou centenas de quilos saem, portanto, de Paraguai, Peru e Bolívia, atravessam Mato Grosso do Sul ou Paraná, atravessam grande extensão de São Paulo e longo trecho fluminense.

Fica à mão dos serviços antitráfico o argumento de que a facilidade é deliberada, para identificar o destino da droga. A tática inteligente seria crível se houvesse, e jamais há, desmantelamento dos centros de distribuição destinatários da carga. E, sobretudo, se as apreensões não se dessem antes do ponto de entrega da droga.

O caminho das drogas é o caminho das armas. E, com a apreensão de ontem na entrada do Rio, ganhou-se o conhecimento de um agravante a mais no problema que não cessa de agravar-se. O pagamento da meia tonelada de maconha foi ou seria feito sem dinheiro: com carro roubado e levado para o Paraguai. Está desfeito, ao menos em parte, o mistério de como seria o tráfico intenso e invisível de dinheiro para as fontes de drogas e armas. Estamos pagando com os nossos bens e os nossos medos, quando não com nossas dores ou nossa vida, as drogas e as armas que nos veem fazer tais males.

As Forças Armadas estão agora dotadas do poder de polícia nas regiões de fronteira. Providência que se relaciona mais com as situações internas da Colômbia e da Venezuela, e as imaginadas consequências possíveis na Amazônia brasileira e nas tribos amazônicas, do que com os problemas já existentes na fronteira oeste. Se bem que o boliviano Evo Morales e o paraguaio Fernando Lugo estejam na lista, digamos, cinza escuro. Se da nova medida decorrerá nova concepção de presença militar na fronteira ativíssima, não se conhece nem hipótese.

Já que estamos sob campanha para a Presidência, seria pertinente esperar que os candidatos se manifestassem, com ideias inovadoras e convincentes, sobre todo esse assunto. Não propriamente por isso, mas, ao que parece, por causa da insegurança urbana, José Serra promete um indefinido Ministério da Segurança. O qual já existe, aliás, com todos os departamentos, serviços e quadros apropriados. Chama-se Ministério da Justiça. Seria só o caso, além de alterações desejadas pelo eleito, de mudar-lhe o nome. Embora o atual seja menos típico de regimes autoritários.

De Dilma Rousseff não consta, nos anais, nem sequer uma palavra sobre o tema. Vazio que se vê também nos demais candidatos. Mas, compreende-se, estamos em uma campanha presidencial peculiar.

Artigo escrito por Janio de Freitas


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