Publicado em: 03/09/2010
Em relação à reportagem ONG vê omissão em diretriz para terapia contra tabagismo publicada no caderno Vida&, do jornal O Estado de S. Paulo, em 26 de agosto, a Associação Médica Brasileira lastima o enfoque dado ao tema. Segundo a publicação, os responsáveis pela diretriz do tabagismo estariam omitindo as contradindicações e precauções relativas ao uso do medicamento vareniclina e essa omissão seria em decorrência de conflitos de interesse de alguns profissionais envolvidos na elaboração da diretriz, publicada pela AMB e Conselho Federal de Medicina e reconhecida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A diretriz sobre o Tratamento do Tabagismo foi embasada, preferentemente, em revisão sistemática de estudos experimentais e/ou observacionais de melhor consistência (grau de recomendação e força de evidência A), que foram consultadas até 2008. Os dados sobre a vareniclina tiveram como base publicações de estudos randomizados, controlados, duplo cego de Fase 3. A menção do uso do medicamento vareniclina e suicídio não consta dessa publicação, visto que somente em 2009 o FDA apresentou advertências a respeito da ideação suicida, tentativas de suicídio e outros sintomas neuro psiquiátricos relatados pós- comercialização do fármaco, levando a mudanças na redação da bula, que também foram adotadas pela subsidiária brasileira. As advertências deveriam ser seguidas por médicos e pacientes.
Em relação à diretriz, ressaltamos que nos itens 10, são referidas as contraindicações e efeitos colaterais do medicamento, e no 18, que aborda o tratamento do tabagismo em pacientes com transtornos psiquiátricos, está explícito o seguinte: "entretanto, é muito importante o diagnóstico e tratamento dos transtornos psiquiátricos concomitantes com especial atenção durante o tratamento com vareniclina, o qual pode estar associado ao humor depressivo, agitação e ideação ou comportamento suicida. (grau de recomendação e força de evidência D)".
Assim sendo, fica claro que não houve qualquer omissão das consequências do uso da vareniclina relativas ao surgimento de sintomas depressivos e de ideias suicidas. Dessa maneira, a integridade intelectual e científica dos responsáveis pela diretriz não foi danificada e também não interferiu na relação risco-benefício dos pacientes.
Antonio Pedro Mirra
Coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo
José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da Associação Médica Brasileira