2 pacientes psiquiátricas fogem de hospital municipal

Publicado em:  10/09/2010

Em surto psicótico, elas escaparam quando estavam para ser transferidas. Segundo parentes das duas, os funcionários se limitaram a assistir às fugas; hospital diz que está apurando os fatos.

Duas pacientes psiquiátricas -uma com diagnóstico de esquizofrenia e outra com transtorno bipolar, ambas em quadro de surto psicótico- fugiram do Hospital Arthur Ribeiro de Saboya, administrado pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, quando estavam para ser transferidas para outra instituição de saúde.

As fugas aconteceram por volta das 20h de anteontem. Segundo familiares das duas mulheres, os funcionários e seguranças do hospital limitaram-se a assistir. Não correram atrás das duas, não fizeram buscas no bairro, não chamaram a polícia.

"Disseram que não poderiam nem encostar nas pacientes, o que é inverídico. Trata-se de pacientes psiquiátricos. Até para garantir a segurança delas e das pessoas em torno, teriam de ser contidas", afirmou a produtora Cibele Marinho, irmã de uma das mulheres.

Por volta das 2h de ontem, a paciente Gisele Marinho, 40, reapareceu. Ela percorreu a pé, transtornada, gritando todo o tempo, os 6,5 km que separam o hospital do prédio em que vive com os pais e uma irmã, no bairro de Santa Cruz (zona sul de SP). Acordou a vizinhança.

A outra doente que fugiu, Miriam Jacqueline Pereira dos Santos, 22, até a conclusão desta edição, continuava desaparecida. "O hospital era responsável pela segurança da Gisele. Mas, em vez de zelar pela vida e pela saúde dela, deixou que minha irmã -em pleno surto, totalmente descontrolada- saísse de noite pela cidade. Nem quero pensar no tipo de tragédia que poderia ter acontecido", diz Cibele.

"Em vez de tomar providências para encontrar minha filha, o hospital disse que a responsabilidade pelo acontecido era minha. Eu não aceito isso", diz a dona de casa Marionice Pereira dos Santos, mãe de Miriam.
"Quando fica fora de si, a Miriam tem uma força descomunal. Se eu me achasse em condições de lidar sozinha com essa situação, não a teria levado ao hospital."

A Folha solicitou entrevista com a diretoria do Hospital Arthur Ribeiro de Saboya. Recebeu da secretaria a informação de que "o processo de averiguação interna para apurar o ocorrido está em andamento".

FUGA SEM REAÇÃO
Tanto Gisele quanto Miriam fugiram quando estavam para ser transferidas de hospital -iriam para a Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima, onde dariam continuidade aos tratamentos.

Gisele nunca antes havia sido internada, embora a esquizofrenia tenha sido diagnosticada já na adolescência. Na última segunda-feira, porém, depois de um surto muito forte, a família resolveu levá-la ao hospital Saboya.

Quando lhe pediram para se arrumar, a mulher achou que fosse voltar para casa. Ao perceber que não, assustou-se. Correu até a porta do hospital e desapareceu. "Todo mundo -enfermeiros e seguranças- ficou paralisado, olhando. Comecei a gritar, mas ninguém parecia saber o que fazer. Então, resolvi acionar o 190. Eu é que tive de chamar a polícia", lembra a mãe de Miriam.

Em seguida, o hospital foi trancado, para impedir que outros internos também tentassem fugir. Em um salto, a paciente Miriam escalou uma grade de três metros de altura, pulou de lá de cima e também ganhou a rua. Essa era a oitava internação da jovem. A doença mental manifestou-se há cinco anos, depois de uma depressão pós-parto.

O HOSPITAL
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o Saboya realiza atendimento a casos de emergência em psiquiatria. Possui 20 leitos na observação e outros 22 na enfermaria. Atende entre 400 e 500 pacientes por mês.

Do total, 40% apresentam quadros psicóticos, incluindo esquizofrenia e transtorno bipolar; de 40 a 50% são dependentes químicos. Os demais apresentam quadros de ansiedade e depressão. Para atender os pacientes da emergência, o hospital tem nove plantonistas psiquiatras e dois médicos diaristas.


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