Ineficiência afeta os EUA no ranking da saúde

Publicado em:  05/12/2010

 

The New York Times

Nicholas Bakalar

Estátua em frente à biblioteca da Universidade de Columbia, em Nova York

Estátua em frente à biblioteca da Universidade de Columbia, em Nova York

De acordo com todas as estimativas, os Estados Unidos gastam mais com saúde do que qualquer outro país. Mas de acordo com o World Fact Book (publicada pela Agência Central de Inteligência), o país está em 49º lugar em expectativa de vida.

Por quê?

Pesquisadores que escreveram na edição de novembro da revista Health Services dizem que sabem a resposta. Depois de citar provas estatísticas que mostram que os padrões norte-americanos de obesidade, fumo, acidentes de trânsito e homicídio não são a causa da baixa expectativa de vida, eles concluíram que o problema é o próprio sistema de saúde.

Peter A. Muennig e Sherry A. Gleid, pesquisadores da Escola Mailman de Saúde Pública na Universidade de Columbia, compararam o desempenho dos Estados Unidos e outros 12 países industrializados: Austrália, Áustria, Bélgica, Inglaterra, Canadá, Fraça, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Suécia e Suíça. Além dos gastos de cada país com saúde, eles se concentraram em duas outras estatísticas importantes: a sobrevivência de 15 anos para pessoas de 45 anos e para aquelas com 65 anos.

Os pesquisadores dizem que esses números apresentam um quadro acurado da saúde pública porque medem o sucesso de um país em evitar e tratar as causas de morte mais comuns – doenças cardiovasculares, derrame e diabetes – que são mais prováveis de acontecer nesses primeiros estágios. Seus dados vêm da Organização Mundial de Saúde e cobrem o período de 1975 a 2005.

A expectativa de vida aumentou ao longo desses anos em todos os 13 países, assim como os gastos com saúde. Mas os Estados Unidos tiveram o menor aumento de expectativa de vida e o maior aumento em gastos.

Em 1975 os Estados Unidos estavam perto da média em gastos com saúde, e em último lugar na expectativade quinze anos de sobrevivência para os homens de 45 anos. Em 2005, seus gastos tinham mais do que triplicado, ultrapassando em muito os aumentos em outros lugares, mas a estatística da sobrevivência continuava em último lugar – um pouco acima de 90%, comparado a mais de 94% para os suecos, suíços e australianos. No caso das mulheres, elas eram 94% nos Estados Unidos, contra 97% na Suíça, Austrália e Japão.

Os números para as pessoas de 65 anos em 2005 eram semelhantes: cerca de 58% dos homens norte-americanos deveriam sobreviver outros 15 anos, em comparação a mais de 65% de australianos, japoneses e suíços. Enquanto mais de 80% das mulheres de 65 anos na França, Suíça e Japão sobreviveram 15 anos, apenas cerca de 70% das mulheres norte-americanas viveriam tanto.

Ao atribuir a culpa ao sistema de saúde norte-americano, os pesquisadores primeiro eliminaram vários outros fatores. A obesidade e o fumo são as principais causas de morte ligadas ao comportamento, mas a obesidade aumentou mais lentamente nos EUA do que em outros países e o tabagismo caiu mais rapidamente, então nenhum deles explica as diferenças nas taxas de sobrevivência. Homicídios e acidentes de carro fatais continuaram estáveis ao longo do tempo, e fatores sociais, econômicos e educacionais não variam muito entre esses países.

Mas nem todos os especialistas concordam com esta análise. Samuel Preston, demógrafo e professor de sociologia na Universidade da Pensilvânia, diz que a análise é falha.

“A mensagem básica está correta – de que os números dos EUA em saúde, incluindo a mortalidade e morbidade, são muito ruins em comparação com outros países”, disse ele. Mas os pesquisadores de Columbia “não têm provas diretas sobre o sistema de saúde neste artigo”, continuou. “Sua conclusão é extremamente especulativa.”

O fato de eles não acharam o fumo um problema “é um mistério para mim”, disse Preston. “Principalmente porque eles mostram uma alta mortalidade por câncer de pulmão nos EUA”. Preston publicou amplamente sobre as tendências de mortalidade e os efeitos do tabagismo.

Muenning admitiu que o estudo examinava apenas a expectativa de vida e os gastos com saúde nos 13 países, e não a estrutura ou a economia do sistema de saúde. “Fizemos um ótimo trabalho ao mostrar que o tabagismo não é o culpado”, disse ele.

“O fumo e a obesidade ainda não os maiores fatores de risco para a saúde de um indivíduo”, diz ele. “Mas eles estão afetando a expectativa de vida em todos os países. Enquanto que nos EUA temos um sistema de saúde altamente ineficiente que está retirando recursos de outros programas que salvariam vidas.”



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