Publicado em: 07/02/2011
O Exército confirmou nesta sexta-feira (4) que um rapaz de 22 anos, com passagem pelo tráfico de drogas, foi morto num 'provável acerto de contas entre criminosos' na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio.
O assassinato ocorreu no Natal, dois dias após a ocupação dos complexos da Penha, onde fica Vila Cruzeiro, e do Alemão pelos militares da Força de Pacificação.
É o primeiro caso de assassinato, após o início da ação militar nos complexos, que o Exército aponta relação com o tráfico. Outras seis pessoas foram mortas nos complexos desde a ocupação.
Na sexta, dois homens morreram a facadas. Segundo a Força de Pacificação, as investigações iniciais apontam para crime passional. Em outros três casos, já está descartada a participação de criminosos que antes atuavam na região.
| Hudson Corrêa/Folhapress | ||
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| Rua Seis em Vila Cruzeiro, no Rio, local onde Marcus Vinicius foi morto na madrugada do dia 25 de dezembro |
O CRIME DA RUA SEIS
Marcus Vinicius Borges Andrade da Silva, 22, o Sombra, é a vítima do acerto de contas apontado pelo Exército.
Ameaçado de morte, ele foi expulso por seus companheiros de tráfico da Vila Cruzeiro no início de 2010.
Só voltou dez dias após a área ser ocupada, no fim de novembro, pela polícia.
Na noite da véspera de Natal, resolveu ir a um pagode dentro da vila. Ao voltar para a casa da avó, já de madrugada, foi morto.
Segundo registro de ocorrência da Polícia Civil obtido pela Folha, Marcus Vinicius morreu a facadas.
O Exército, que patrulha Vila Cruzeiro após ocupação, diz que os criminosos usaram arma de fogo. Junto ao corpo, a polícia encontrou um estojo de balas 9 mm.
Marcus Vinicius morreu na rua Seis, a poucos metros da casa da avó. Em seguida teve o corpo arrastado até a esquina e, de lá, pela rua Oito abaixo, por mais de cem metros, até um beco. O rosto e o tórax ficaram deformados.
Localizado por volta das 5h30, o corpo só foi removido quatro horas depois, segundo afirma a família.
'Essa comunidade está pacificada de quê? Se a pessoa morre, sendo arrastada desse jeito', diz um familiar, que pede para não ter seu nome publicado.
'A Vila Cruzeiro está sendo patrulhada e seus pontos estratégicos estão ocupados 24 horas por dia, todos os dias da semana', rebate o Exército em nota.
A família de Marcus Vinicius acredita que ele foi morto por traficantes ainda escondidos na Vila Cruzeiro. 'Quem fez, nem foram os grandões, foram os buchas que querem aparecer, criar nome', diz um familiar.
'A vítima já havia pertencido ao tráfico. Em função de assaltos contra moradores da própria região, Marcus Vinícius foi expulso da comunidade. A investigação aponta para um provável acerto de contas entre os criminosos', afirmou o Exército.
Marcus Vinicius só voltou à favela, segundo sua família, porque estava confiante de que estaria seguro com a área ocupada pelo Exército e a polícia.
Também motivou seu retorno o nascimento da filha, seis dias após traficantes da Vila Cruzeiro fugirem a pé com fuzis para o vizinho Complexo do Alemão, retomado em seguida.
Soldado do tráfico desde os 17 anos, Marcus Vinicius tentou trabalhar como entregador de revistas na zona sul da cidade após ser expulso da favela. Foi demitido, segundo sua família, porque as jogava no lixo e informava ao patrão ter feito a entrega.
Na adolescência, ainda de acordo com parentes, perdeu a chance de jogar futebol em Minas Gerais. Um olheiro o descobriu nas quadras da Mangueira, zona norte, onde morava na época. Preferiu voltar para a Vila Cruzeiro e entrar para o tráfico.