Empresas devem tratar alcoolistas

Publicado em:  13/02/2011

 


Luiza Sigulem/Folhapress
 

Roberto Paulo conseguiu indenização por ter sido demitido

DE SÃO PAULO

Por diversas vezes, o vigilante Roberto Paulo, 47, foi trabalhar bêbado. Os colegas e supervisores o advertiam. O profissional era mandado de volta para casa, e o dia não trabalhado era descontado de seu salário. Como o problema se repetiu, foi demitido por justa causa.
A demissão por embriaguez habitual ou em serviço, apesar de estar prevista na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) como justa causa, tem sido condenada pelas decisões do TST (Tribunal Superior do Trabalho) .
Isso porque a dependência do álcool é reconhecida como doença pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A recomendação é que o trabalhador seja afastado da empresa para tratamento, esclarece o presidente do TST, Milton de Moura França.
"Se o funcionário é doente, tem as fac uldades comprometidas, o que faz dele quase um "inimputável" [que não pode ser acusado ou penalizado] no trabalho."
Em 2008, oito anos após ter sido demitido, Roberto Paulo, que diz estar sem beber há dez anos, recebeu cerca de R$ 25 mil de indenização da empresa, à qual afirma ter pedido tratamento para o alcoolismo.

Abordagem tem de apontar baixo desempenho do trabalhador

DE SÃO PAULO

A empresa não deve apontar a bebida como o problema do dependente de álcool. A recomendação de especialistas é que sejam apresentados os efeitos do vício no desempenho do funcionário.
A queda no rendimento, os atrasos e as faltas devem servir para mostrar que algo afeta a vida profissional.
"É a doença d a negação. Não adianta falar que ele está bebendo demais", indica Wello (que não quis se identificar), do segmento de empresas do Alcoólicos Anônimos de São Paulo.
Para ele, um dos maiores problemas enfrentados na procura do tratamento é que os colegas acobertam o funcionário alcoolista.
A psicóloga Sabrina Ferroli, da consultoria de gestão de pessoas Karana, afirma que a equipe protege o alcoolista porque o vício é visto como algo a ser escondido.
"O chefe compreende que o momento é delicado e acaba sendo conivente", considera a psicóloga.
A melhor maneira de fazer a abordagem é, depois de apontar o problema, "mostrar pontos positivos do trabalho dele e que empresa está disposta a investir nele com tratamento", diz Rosana Lino, coordenadora de recursos humanos da Goodyear.
Os grupos de apoio, como o Alcoólicos Anônimos podem oferecer palestras. Dessa forma, os funcionários ganham abertura da empresa para procurar o RH e participar do programa.


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