Publicado em: 13/02/2011
Para não demitir funcionários doentes, empresas investem em tratamento.
A recuperação de um funcionário é mais barata do que a demissão, a contratação e o treinamento de um novo empregado, segundo especialistas consultados pela Folha .
Sentir o cheiro de álcool e notar que o colega de trabalho está bêbado é fácil, mas identificar o dependente é tarefa para supervisores.
"A pessoa que conseguirá identificar o problema é o supervisor imediato do funcionário, que vai passar tarefas e ver que ele não está conseguindo cumpri-las, atrasando-se e faltando ao serviço", diz o psiquiatra Arthur Guerra, coordenador do grupo de álcool e drogas do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Guerra orienta o chefe a acompanhar e anotar as falhas do funcionário. Elas devem ser apresentadas ao setor de recursos humanos, que deverá abordar o trabalhador e oferecer tratamento.
Além de chefes e supervisores, a família é um dos grandes aliados das empresas na hora de alertar sobre um funcionário alcoolista.
Na Goodyear, a gerente de recursos humanos Camila Mendes afirma receber telefonemas e visitas de pessoas da família que buscam ajuda para o funcionário.
Foi o que aco nteceu com Barbosa (que não quis fornecer o primeiro nome), 51, cuja mulher foi à Goodyear pedir que o marido fosse demitido. A ideia era que ele recebesse a rescisão do contrato para que pudessem se separar.
Na hora, a responsável pela área de recuperação de dependentes chamou o funcionário e ofereceu tratamento.
"Fiquei chorando e comecei a pensar na minha família, na minha filha, que dizia ter nojo de mim, e aceitei ir para a clínica buscar ajuda."
Barbosa e a mulher continuam casados. "[Minha filha] diz que sou o melhor pai do mundo", conta ele, que ministra palestras motivacionais em escolas e empresas.
FAMÍLIA
A empresa deve oferecer, além de tratamento ao dependente, auxílio à família, na avaliação de Elza Maio, coordenadora de responsabilidade social da Avon.
"Quando encaminhamos o funcionário para a clínica, a família é chamada e entende que também está doente e precisa se tratar", destaca.
Tanto a Avon quanto a Goodyear custeiam a primeira internação e oferecem psiquiatras e psicólogos para a família e o funcionário.
Se o empregado voltar a beber, terá de pagar o tratamento e poderá ser demitido se tiver quedas no rendimento, comum entre viciados, dizem especialistas.
Não alcoolistas que bebem em serviço podem ser dispensados
DE SÃO PAULO
A diferenciação entre o alcoolista e a pessoa que "exagerou na dose" deve ser feita por médicos e psiquiatras. No segundo caso, a demissão pode ser feita por justa causa.
Pelo entendimento do TST, a empresa que oferecer tratamento também tem o direito de demitir o funcionário que se negar a p articipar do programa ou que voltar a apresentar os mesmos problemas após o auxílio.
Foi o que aconteceu com Arnaldo (que não quis se identificar), 45. O profissional trabalhou em uma empresa de transporte público por 15 anos antes de ser demitido por causa do vício.
"Me mandaram para clínicas, mas foi difícil entender por que queriam tirar o que eu mais amava -a cachaça", diz ele, que trabalha no Alcoólicos Anônimos e diz estar sem beber há dez anos.