Publicado em: 17/05/2011
A edição deste ano da Marcha da Maconha em Curitiba,
prevista para acontecer a partir das 15 horas no próximo domingo, 22 de
maio, já está causando polêmica.
Para impedir a realização da manifestação, que tem início na Praça
Santos Andrade, deputados estaduais prometem recorrer ao Ministério
Público para que o órgão tome as providências necessárias para cancelar o
evento. O motivo para a mobilização dos parlamentares seria a ideia de
que a marcha poderia fazer apologia não somente à maconha, mas também a
outras drogas.
“A maconha é apenas a porta de entrada para
outras drogas. Se ficarmos quietos agora, de forma omissa, daqui a pouco
vai ter marcha da cocaína, do crack, da pedofilia”, afirma o deputado
estadual Roberto Aciolli (PV). A também deputada estadual Mara Lima
(PSDB) concorda com ele e ainda diz que “não podemos viver de modismo,
achando que como deu certo em outros países vai dar certo aqui também.
Estamos lutando para que a questão da droga seja sanada em todo o
Brasil, mas com essa marcha, quem é usuário se sente fortificado e quem
não consome a droga é incentivado a usá-la”.
Os organizadores do
evento se defendem alegando que a Marcha pretende apenas abrir a
discussão sobre o assunto perante a sociedade, sem fazer apologia. “A
Constituição Brasileira defende a liberdade de expressão e só queremos
abrir o debate, inclusive com opiniões contrárias. Por isso, os
deputados estão convidados para participar, trazendo seus
questionamentos”, afirma um dos organizadores da Marcha em Curitiba, o
publicitário e empresário Shardie Casagrande.
Para Aciolli, a
manifestação ainda poderia trazer à tona outra questão. “Posso garantir
que entre 70 e 80% dos crimes que acontecem estão relacionados ao
tráfico de drogas e essa marcha incentiva quem desempenha essa
atividade.
Em relação a este assunto, os organizadores do evento garante, que a
descriminalização da maconha pode até contribuir para a diminuição do
consumo de outras drogas. “Não há nenhuma substância na maconha que faça
com que o organismo tenha necessidade de consumir outras drogas. Quando
alguém passa de uma para outra é porque o traficante oferece. É por
isso que é importante discutirmos o assunto”, comenta Casagrande. Para
ele, “com a legalização da maconha seria possívl tirá-la das mãos do
traficante e, assim, fazer com que quem consome essa não tenha contato
com as outras”.
Efeitos da droga
Outro argumento utilizado por Casagrande e pelos demais organizadores
da marcha seria o caráter benéfico da maconha para a saúde. “A maconha
não cria danos como outras drogas e é inclusive mais saudável do que o
cigarro e pode até mesmo ser utilizada em tratamentos médicos, conforme
demonstrado em pesquisas internacionais”, garante Casagrande.
No entanto, a categoria médica discorda. “Existe um mito de que a
droga é natural e inofensiva porque a sua popularização começou na
década de 1960, quando a imagem passada era de uma droga elegante, mas
hoje sabemos que ela está muito mais forte, pois seu princípio ativo, o
tetrahidrocanabinol, passou de 2% para 12% com os anos”, explica o
médico e presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, Marco
Antônio Bessa.
De acordo com ele, além dos efeitos já conhecidos, como perda de
memória e concentração, a maconha pode causar danos ainda mais graves.
“Por estar contaminada por outros elementos, a droga pode causar
problemas respiratórios e em pessoas mais suscetíveis, a droga pode
causar ataques de pânico ou até mesmo um quadro de esquizofrenia”,
explica.
Já nas pessoas que a consomem desde cedo, na infância ou na
adolescência, um dos principais problemas seria afetar a região do
córtex pré-frontal do cérebro, responsável pelo desenvolvimento do
pensamento abstrato e do planejamento. “A pior consequência disso é que a
pessoa perde as funções cognitivas mais sofisticadas da idade adulta, o
que pode causar até mesmo uma incapacidade de se inserir no mercado de
trabalho”, ressalta.
Marcha mantida
Independente das providências tomadas pelos deputados estaduais para
impedir que a Marcha da Maconha seja realizada no próximo Domingo em
Curitiba, os organizadores garantem que ela vai acontecer de qualquer
forma. “Assim como foi feito em outros estados, estamos tentando habeas
corpus para que Marcha aconteça, mas, como taolvez não haja tmpo
suficiente para esses pedidos serem julgados, mesmo que haja uma liminar
proibindo a realização dela, vamos nos concentrar na Praça Santos
Andrade no horário combinado mesmo que seja para a Marcha se transformar
em uma passeata pela liberdade de expressão”, afirma Casagrande.
Para
um dos organizadores da Marcha da Maconha de São Paulo e participante
do movimento nacional pela legalização da droga, o estudante Julio
Delmanto, este ano provavelmente será o último em que algumas marchas
ainda serão proibidas, como pode acontecer no Paraná.
“A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental pedida pela
Procuradoria Geral da República está prestes a ser julgada pelo Supremo
Tribunal Federal e não consigo imaginar que o STF tenha outra posição
que não considerar inaceitável a proibição de qualquer manifestação de
pensamento”, opina.