Publicado em: 03/06/2011
O discurso do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso pela descriminalização da maconha tornou-se uma
preocupação eleitoral para alguns dos principais nomes de seu partido, o
PSDB.
A defesa da adoção de políticas alternativas para usuários de drogas
ganhará mais destaque a partir de hoje com a estreia do documentário "Quebrando
o Tabu", que é estrelado por ele, nas maiores cidades do Brasil.
No filme,
FHC conta experiências de países que adotaram medidas alternativas à punição dos
usuários de drogas, ao lado de políticos como os ex-presidentes Bill Clinton
(EUA) e Ernesto Zedillo (México).
A bandeira contraria opinião majoritária da
cúpula do PSDB. O ex-governador José Serra foi o primeiro a externar a
interlocutores sua preocupação com o tema.
Então candidato à Presidência,
Serra disse, em sabatina daFolha, no ano passado, ser contra a
descriminalização das drogas. "Não sou a favor. Para nenhuma delas."
O
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, compartilha da opinião, mas relativiza
o debate. "Embora minha posição seja contrária à legalização, entendo que o
debate é positivo", disse.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), também
manifesta inquietação. "Preocupam-me determinadas circunstâncias dessa proposta.
Mas acho que FHC tem autoridade política e moral para sustentar suas
ideias."
A ênfase às palavras "suas ideias" não é ocasional. O PSDB se
empenhará para mostrar que a descriminalização é uma bandeira do ex-presidente,
não do partido.
"Todo fato de repercussão pode influir no ânimo do eleitor.
Mas ainda é cedo para mensurar se esse impacto será positivo ou negativo. Eu sou
contra. Mas isso nunca foi discutido no partido", afirmou o líder do PSDB no
Senado, Alvaro Dias (PR).
Procurado via assessoria, o senador Aécio Neves
(MG) não respondeu.
Em entrevista à coluna Mônica Bergamo no último domingo,
FHC deu sinais de que conhece a contrariedade do partido. "Se você não tiver
coragem de ficar sozinho, não é um líder", disse.
Ontem, em Nova York,
durante apre sentação do relatório da Comissão Global sobre Drogas, que integra
há três anos, o ex-presidente afirmou que a guerra contra as drogas "fracassou"
e defendeu que o dinheiro usado no combate seja usado para o tratamento de
viciados.