Pacientes buscam tratamento em terapia feita em ambulatório

Publicado em:  20/06/2011

Atividade ocupacional é alternativa à internação de dependentes

Edson Silva/Folhapress

Paciente faz trabalho manual em ambulatório para dependentes químicos no interior de SP

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

A impaciência, típica das crises de abstinência, levou Pedro (nome fictício), 41, a deixar o pronto-socorro de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) e esperar em casa por uma vaga de internação em um hospital psiquiátrico.
Pela agressividade, ele precisou ser amarrado para passar a madrugada da última sexta-feira no PS. Até o final da tarde daquele dia, ainda não havia obtido vaga. Pedro é dependente de álcool e cocaína há dois anos. Tentou por se tratar em uma comunidade terapêutica, mas não se adaptou.
Apesar de dizer ser bem atendido no Caps AD, ambulatório para dependentes químicos, ele afirma não gostar de terapias. "Isso não dá certo, você expõe a vida a um desconhecido", conta. 
Para Pedro, o dependente ainda é olhado com descon fiança e preconceito nos PSs e hospitais. "Faltam médicos que te compreendam."
Cecília, 56, busca hoje na máquina de costura do Caps AD superar as duas décadas de dependência ao álcool.
Ela hoje ensina outras pacientes ""e também aprende. "Isso aqui me ajuda muito, fico mais leve. No fim de semana, fico ansiosa para voltar para o Caps", relata.
Cecília começou o vício no álcool ao se separar do marido. Em momentos de crise, chegou a ser internada quatro vezes em um sanatório em Uberaba (MG). Em outra ocasião, lembra-se da sensação de ficar internada em um hospital psiquiátrico de outra cidade.
"Fiquei junto com outros doentes mentais. Não é preconceito, mas dependente químico precisa de um espaço próprio."
Como Cecília, Cláudio, 65 anos de idade e 30 de dependência ao álcool, também busca apoio nas terapias e atividades ocupacionais do Caps para não ter recaídas.
Na última, ocorrida no ano passado, ficou por duas se manas internado em um hospital. "Caps é o melhor lugar. Você passa o dia inteiro com a mente ocupada. Na internação, você se sente preso."

 

OUTRO LADO

Hoje, tratamento é ambulatorial, diz ministério

DE SÃO PAULO

O Ministério da Saúde confirma que as internações para tratamento de dependência de álcool caíram 29% entre 1998 e 2007. 
O governo nega, porém, que tenha havido queda de recursos. Os valores passaram de R$ 56,4 milhõs em 1998 para R$ 59,4 milhões em 2007. No ano passado, foram gastos R$ 71,4 m ilhões.
Os valores e números são diferentes do levantamento do economista Daniel Cerqueira. Mas o ministério informou na noite da última sexta-feira que não tinha como rechecar os dados.
Para o coordenador de Saúde Mental do ministério, Roberto Tykanori, o levantamento da FGV erra ao se concentrar nas internações.
"Tratamento não se resume a internação. Hoje, grande parte do atendimento é feito em ambulatórios", diz.
Dois números traduzem essa mudança, segundo ele. Em 2002, a área de saúde mental realizava 450 mil consultas ambulatoriais. No ano passado, foram mais de 20 milhões. Para Tykanori, o governo não ignora o problema do álcool. "O crack não tem a gravidade do álcool. Mas é um problema similar ao que era a Aids há 20 anos. 


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