Anvisa decide até agosto se proibirá emagrecedor

Publicado em:  20/06/2011

Valterci Santos/Gazeta do Povo

Valterci Santos/Gazeta do Povo / Remédios com sibutramina não podem ser usados por quem tem diabete e hipertensão ou teve  enfarte ou AVC Remédios com sibutramina não podem ser usados por quem tem diabete e hipertensão ou teve enfarte ou AVC

Efeitos colaterais causados por inibidores de apetite ainda dividem opiniões de médicos

 

Até agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve apresentar sua decisão final e, provavelmente, proibir a comercialização de inibidores de apetite que contenham quatro substâncias: sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol – os três últimos anfetamínicos.

A justificativa é que esses produtos causam uma série de problemas de saúde. No caso dos anfetamínicos, há consenso de que o perigo está na dependência química gerada pelo uso. Quanto à sibutramina, os especialistas se dividem e, mesmo com a resolução pela proibição, a polêmica não deve terminar.

Uso

Prescrição tem regras rígidas

Enquanto a decisão da Anvisa não é anunciada, a sibutramina pode ser receitada apenas para pacientes obesos – e não para quem quer perder poucos quilos ou mesmo para fins estéticos.

Entram no grupo que pode receber a sibutramina pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 30; indivíduos com IMC maior que 25, mas com manifestações de doenças como diabete e hipertensão; e mulheres com mais de 88 centímetros de cintura e homens com cintura acima de 110 centímetros.

Em todos os casos, o remédio só pode ser usado, no máximo, por dois anos e o profissional deve ficar atento à eficácia da substância. “Se o paciente não emagrece ou manifesta alguma reação, a prescrição deve ser retirada”, explica Rosana Radominski, médica endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Não podem receber a medicação pessoas com hipertensão ou diabete sem controle dos sintomas, arritmia cardíaca, anginas e psicopatia.

O argumento principal da Anvisa para efetuar a proibição é que a substância traria mais malefícios do que benefícios para a saúde: segundo estudos, além de efetivamente promover uma perda de peso de 5% a 10% nos pacientes que a utilizam, ela aumenta as chances de problemas cardiovasculares, como enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

“O medicamento é indicado para pessoas que precisam emagrecer para evitar complicações em quadros de obesidade, como problemas cardiovasculares. Então qual o sentido de usar um remédio se ele próprio leva a esse quadro?”, diz Maria Eugênia Cury, chefe do núcleo de gestão do sistema nacional de notificação e investigação em vigilância sanitária da Anvisa.

A médica endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), Rosana Radominski, critica a proibição do medicamento. Ela assinala que a medicação pode sim ser usada por pessoas que tenham diabete e doenças cardiovasculares, desde que estejam com os sintomas controlados.

Rosana explica que a eficiência da substância no processo de perda de peso em pessoas obesas é inquestionável, mas a maior vantagem da medicação ainda é o efeito psicológico que tem sobre os pacientes. “Ela não é o principal, mas um adjuvante. Como emagrece de maneira relativamente rápida, a pessoa fica mais motivada a aderir ao tratamento, seguir uma dieta alimentar saudável e praticar exercícios, medidas que são as verdadeiras protagonistas do processo de emagrecimento.”

Estudo

Com a proibição, o Brasil segue uma tendência mundial, já que é um dos únicos países que ainda vendem os anfetamínicos. Por aqui, a proibição é baseada nas conclusões do Sibutramine Cardiovascular Outcomes Trial (Scout), um estudo realizado pela Agência Europeia de Medicamentos (Emea) durante seis anos com 10 mil pacientes em vários países e publicado em 2009. A pesquisa sugeriu que o uso de sibutramina não é efetivo em 70% dos casos analisados e que aumenta em 16% os riscos de eventos cardiovasculares. Com esses argumentos, a sibutramina teve o registro cancelado recentemente em vários países, como Argentina, Austrália, Canadá, Estados Unidos e Comunidade Europeia.

“A partir dessa pesquisa a Anvisa realizou diversos estudos técnicos que chegaram à mesma conclusão do apresentado na Europa. Essa decisão não será tomada para ‘pegar carona’ no que foi feito em outros países”, diz Maria Eugênia, da Anvisa.

Para Lázaro Fernandes de Miranda, representante da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o estudo europeu não poderia embasar a decisão, pois teria sido feito com pessoas obesas que tinham diabete, problemas cardíacos ou os dois. “Os sujeitos da pesquisa eram um grupo que naturalmente não poderia receber a medicação, como está estabelecido na própria bula.”

Opções

Para a presidente da Abeso, com a sibutramina fora do mercado, os médicos ficarão sem opção terapêutica para tratar o problema. “Poderemos prescrever um remédio que custa R$ 300 e que não funciona sempre. Isso vai encarecer muito o tratamento, o que pode comprometer o atendimento a pessoas de baixa renda.”

Para a representante da Anvisa, proibir os medicamentos anfetamínicos e a sibutramina são uma forma de rediscutir o tratamento da obesidade no Brasil. “Não existe fórmula mágica para fazer uma pessoa emagrecer. O excesso de peso deriva de uma série de situações que vão muito além da medicação.”

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