Publicado em: 19/06/2011
Ayrton Vignola/AE
Winters: “Grupos de autoajuda só funcionam com pessoas parecidas” Ken Winters, psiquiatra norte-americano, autoridade mundial no combate ao consumo de entorpecentes
Da Agência Estado
O psiquiatra norte-americano Ken Winters, professor da Universidade de Minnesota e autoridade mundial no combate ao consumo de entorpecentes, participou na última terça-feira do seminário “Prevenção ao Consumo de Álcool e Drogas na Adolescência, Intervenções Baseadas em Evidências”, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. O evento serviu de contraponto às recentes declarações de apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à descriminalização da maconha. O especialista não vê benefícios na liberação da droga e diz que a internação compulsória de usuários que vivem nas ruas pode ser uma opção.
Qual a sua posição sobre a descriminalização da maconha?
Duas manifestações antagônicas ocorreram ontem em Curitiba. A Igreja Batista do Bacacheri promoveu uma marcha contra as drogas, que saiu da Rua XV e seguiu até a Praça Santos Andrade. Já outro grupo, que contou com o apoio de 45 entidades, promoveu a Marcha da Liberdade, manifestação inspirada no ato que ocorreu em São Paulo no último dia 28, após a proibição da Marcha da Maconha. O movimento ocorreu também em outras 40 cidades de 24 estados do país, por causa da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, que liberou as marchas que pedem a legalização da maconha no país. Em Curitiba, cerca de 250 pessoas participaram (a organização estimava 2,5 mil). Mesmo assim, o grupo chamou a atenção ao percorrer as ruas com faixas e cartazes. A passeata, que saiu da Praça Rui Barbosa rumo ao Centro Cívico, foi escoltada por viaturas da Guarda Municipal e da Polícia Militar.
Rafael Waltrick/Gazeta do Povo
As evidências científicas apontam que, quando se legaliza a droga, ela se torna mais disponível, crescem o consumo e o número de viciados. Não é algo que ficará restrito aos usuários atuais. Com a legalização, as redes subterrâneas do tráfico também se expandem. Não será possível legalizar todas as drogas, então os cartéis oferecerão as que continuam na ilegalidade. Mesmo que legalizado, o uso faz aumentar os problemas sociais, jurídicos, familiares e de saúde. Muitas pessoas não terão dinheiro para comprar droga. Para sustentar o vício, elas podem cometer crimes.
Qual o tratamento adequado para crianças de rua usuárias?
É uma das áreas mais difíceis de se tratar e é preciso ter expectativas modestas de resultados. Talvez os problemas sejam provenientes do abandono ou da miséria. Reverter ou prevenir não é algo fácil. É necessário ter na linha de frente pessoas com credibilidade, um adulto jovem, um mentor que se infiltre e mostre outros caminhos.
O senhor é favorável à internação compulsória de viciados?
Não é o ideal, mas, às vezes, é preciso ter essa carta na manga. Ela pode ser apresentada como uma alternativa à prisão, quando o usuário está envolvido em crimes menos graves. São necessárias clínicas atraentes para os jovens, com recreação, alimentação e possibilidade de desenvolvimento profissional.
Qual a sua impressão sobre a cracolândia em São Paulo?
É assustador. É algo similar ao que acontece em cidades dos Estados Unidos, onde há regiões, com quartos fechados, onde as pessoas usam crack.
E grupos de autoajuda?
Estudiosos dizem que, quando funcionam, é com grupos bastante específicos, com pessoas parecidas entre si.
Qual o perfil do adolescente usuário de drogas?
Álcool, tabaco e maconha são as drogas mais usadas por eles, e isso ocorre por vários motivos, incluindo a disponibilidade. Jovens com mais fatores de risco estão mais propensos a usar do que aqueles com poucos ou sem fatores de risco. Exemplos de fatores de risco importantes são a falta de controle sobre os impulsos, colegas delinquentes, falta de intimidade familiar e escassez de oportunidades fora do horário escolar.