Uma guerra sem fim

Publicado em:  09/09/2011

 

Temos acompanhado com atenção a luta que o prefeito Eduardo Paes vem travando na cidade do Rio de Janeiro para acolher e encaminhar para tratamento crianças e adolescentes, livrá-los do crack, das drogas, da desagregação das ruas e reencaminhá-los para o reencontro com a vida.

É uma guerra sem fim que travamos também na capital paulista, com equipes de assistentes sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos e agentes comunitários de saúde, abnegados servidores que trabalham duro todos os dias e boa parte da noite, para abordar, identificar, criar vínculos, encaminhar e tentar acolher moradores em situação de risco. Cobrem os dez distritos do Centro da cidade.

Os que mais chamam a atenção e chocam a sociedade são os dependentes químicos, especialmente do crack - uma droga alastrada há mais de década, que atinge não apenas os grandes centros, onde está mais próxima da mídia, mas também a zona rural, municípios grandes e pequenos pelo Brasil afora.

Enquanto administradores municipais cuidam das consequências e das vítimas das drogas nas cidades, é preciso atacar, de forma corajosa e sistemática, a origem do problema: o tráfico, produtores e contrabandistas. Urge aparelhar a PF, vigiar fronteiras, organizar o combate, investir pesado nele. Esse drama não comporta oportunismos nem improvisações.

A Prefeitura de São Paulo tem feito grandes avanços integrando as ações das áreas sociais destinadas às pessoas em situação de rua e de risco, com abordagens sistemáticas e oferecendo ajuda para albergamento, reinserção familiar e social, além dos tratamentos clínicos e da dependência química.

A internação para tratamento é ato médico, privativo do profissional. A internação involuntária só pode ser feita com acompanhamento do Ministério Público. E a compulsória é determinada pela Justiça após perícia médica. O acolhimento é diferente, não é uma ação de saúde, é uma ação social e multidisciplinar, para proteger pessoas expostas a riscos.

Como parte de suas ações, a Secretaria da Saúde de São Paulo implantou 27 equipes da Estratégia Saúde da Família Especial para atender a população em situação de rua. São mais de 250 profissionais nas unidades, 127 agentes comunitários de saúde - e 90 deles trabalham das 10h às 22h todos os dias da semana. Eles abordam, cadastram essa população vulnerável, tentam inseri-la no SUS. Com os dependentes de drogas e álcool, além dos cuidados com suas patologias, os agentes tentam convencê-los a aderir a um tratamento.

Há um ano e meio, somamos à Rede de Atenção ao Dependente o primeiro Serviço de Atenção Integral ao Dependente (Said), em parceria com o Hospital Samaritano. Funcionando desde agosto, seus 80 leitos têm capacidade de atender 500 pacientes anuais. Para complementar os leitos de curta permanência (30 a 90 dias), a Secretaria de Saúde credenciou leitos de longa permanência com comunidades terapêuticas particulares; são 237 os leitos contratados, além de 915 leitos psiquiátricos.

Em dois anos de Ação Integrada Centro Legal, encaminhamos 4.400 pessoas para tratamento de saúde em geral, e fizemos mais de 1.700 internações específicas para o tratamento de dependências - apenas 111 de forma involuntária e a partir de determinações médicas. No mesmo período, atuando nos dez distritos centrais, com as ações combinadas do Centro Legal (secretarias de Saúde, Desenvolvimento Social, Segurança, Controle Urbano e Subprefeituras), quase dobramos os espaços de atendimento e avançamos na assistência, no atendimento à população de rua.

Há ainda muito a avançar, mas é animador revelar que nesse esforço de reinserção social as secretarias do Desenvolvimento Econômico e Trabalho e a do Verde e Meio Ambiente, por exemplo, já formaram mais de 500 zeladores de praças. Trabalham seis horas por dia, têm duas horas de capacitação profissional, recebem R$576.

Os zeladores de praça ainda têm os abrigos municipais como teto, as refeições, o café da manhã. E seguem próximos da rua, raízes que ainda lhes dão segurança. Um dia poderão deixar as praças onde hoje trabalham, das quais se orgulham. E a elas voltar para passear e serem felizes.

GILBERTO KASSAB é prefeito de São Paulo.

 


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